O que é escrita
performativa?
What is performative writing?
Inês
Saber de Mello
Doutoranda
e mestra em Teatro da UDESC, graduada em letras (UFPR) e em dança (UNESPAR); professora-estudante,
faz uma meta-pesquisa buscando ações, espaços e experiências coletivas de
escritas
inessaber@gmail.com – https://orcid.org/0000-0002-9427-9844
Franciele
Machado de Aguiar
Doutoranda
em Teatro na UDESC, mestra em Artes Cênicas e bacharela em Teatro pela UFRGS.
Atriz, professora, gosta de cantar e de escutar as vozes das pessoas.– aguiafranciele@gmail.com –https://orcid.org/0000-0002-0327-247X
Jussara Belchior Santos
Bailarina
gorda. Doutoranda e Mestra em Teatro da UDESC. Criou Peso Bruto (2017), para discutir
corpo gordo na dança. Interessa-se por poéticas e políticas de movimento e
posicionamento através da dança
jusbelchior@gmail.com – https://orcid.org/
0000-0002-8592-6229
Luane
Pedroso de Oliveira
Doutoranda
e mestra em Teatro da UDESC. É atriz, bailarina, gosta muito de teatro de
bonecos. Arrisca-se em instrumentos percussivos e adora música brasileira.
Nasceu em uma família de artistas, o que para ela foi de vital importância em
sua formação, que se deu, sobretudo, do lado de fora da Academia. Tem a sorte
de amar o que faz.
luane.mainha@gmail.com –https://orcid.org/0000-0001-8127-617X
Matheus
Abel Lima de Bitencourt
É
artista visual e mestrando em Processos Artísticos Contemporâneos na UDESC.
Investiga processos de escrita e modos de leitura. Pensa o pensar o processo
enquanto obra
talveztenhaavercomarte@gmail.com –https://orcid.org/0000-0002-2214-4377
Tereza
Mara Franzoni
Professora
do Departamento de Artes Cênicas e do Programa de Pós Graduação em Teatro da
UDESC. Possui doutorado e mestrado em Antropologia Social da UFSC e graduação em
Ciências Sociais pela UFSC
franzoni@gmail.com – https://orcid.org/0000-0003-2498-085
Resumo
Este texto é uma apresentação de
formulações, modos e imagens a partir da pergunta-título ‘o que é escrita
performativa?’, apresentando a coletânea de textos da proposta Do tema aos
modos, reflexões e invenções: pesquisa em artes e as escritas da pesquisa,
produzidos por artistas-pesquisadoras e pesquisadores de diferentes
universidades brasileiras, que trazem consigo o interesse e exercício reflexivo
da Pesquisa em Arte na e pela escrita, através de seus procedimentos e
possibilidades.
Palavras-chave: Artes cênicas. Escrita e arte. Performance
(Arte).
Abstract
This text is a presentation of formulations, ways and images
based on the title question
'what is performative writing?', presenting the collection of texts
from the proposal From theme to ways,
reflections and inventions: research in arts and research
writing, produced by artist-researchers from different Brazilian universities, who bring with
them the interest and reflective
exercise of Research in Art in and through writing,
sharing their procedures and possibilities.
Keywords: Performing
arts. Writing and art. Performance art.
DOI: http://dx.doi.org/10.5965/1808312915252020e0015
Recebido em: 10/06/2020
Aceito em: 07/07/2020
e o que é o que é o que é o que é o
que é o que é o que é o que é o que é ESCRITA? o que é o que é o que é o que é
o que é o que é o que é o que é a ESCRITA de ARTISTA? e o que é o que é o que é
o que é o que é o que é o que é PESQUISA? e o que é o que é o que é o que é o
que é o que é o que é
este
texto foi produzido por artistas-etc.[1]:
Caras
leitoras e leitores,
Gostaríamos
de tentar conciliar coisas diferentes neste texto que se abre para tratar da escrita
nas pesquisas em Artes Cênicas: a nossa ação enquanto Corpo Editorial, um breve
apanhado dos conceitos e práticas que nos permitem pensar a escrita na
academia.
O
ponto de partida é anterior ao método. Segundo o filósofo italiano Giorgio Agamben (2010), o método na pesquisa nas ciências humanas
não é anterior à prática; os procedimentos de investigação são definidos a posteriori[2]
já que o hábito de pensar destas é longo e contínuo.
Na
arte, especialmente na forma como é feita hoje, é possível listar uma série de
razões para que os métodos tenham caráter processual, passível de mudanças.
Dentre algumas estão: a fragmentação, a provisoriedade, o sintomático, a
continuidade de práticas (que podem vir a gerar produtos e ações); o borramento das noções de participação e autoria, artista e
espectadoras(es); as proposições que não excluem a possibilidade da catástrofe,
as reconfigurações que moldam ações e/ou formas.
Um
exemplo desse caráter processual pode ser notado no trabalho do artista
estadunidense Lawrence Weiner (2014), que o descreve
como algo constituído de frases ou palavras adesivadas em grande escala em
paredes ou fachadas de prédios – estas, na realidade, são esculturas: "o
significado das palavras quase sempre muda. Mas as coisas em si, não".
Partindo desse ponto, Weiner indica que seu trabalho
não apresenta "metáfora alguma", mas deixa aberto seu significado
para que o es/xpectador[3]
utilize-o como lhe parecer melhor, criando assim seu próprio significado
particular para cada pessoa.
O
professor e pesquisador argentino Reinaldo Ladagga
afirma que estamos em uma fase de mudança de cultura nas artes[4]; em Estética da Emergência (2012), aponta
uma disposição à reflexividade nas artes, trazida pelo modernismo – que para o
autor ainda não foi superado – direcionando a erosão da certeza do
conhecimento, ou seja, “toda posição estabelecida deve ser considerada a priori suscetível de revisão” (p.
60-62). Ao pesquisar artes, precisamos, então, estar cientes da transitoriedade
dessa fase: desgarrar de um sistema de pesquisa fechado e permitir que outras
formas e práticas surjam.
O
termo Pesquisa em Artes é bastante difundido no Brasil, remete-se ao trabalho
de pesquisa realizado por artistas com uma dupla face: a criação artística/o
processo de investigação e a apresentação dos resultados/reflexões deste
trabalho. Silvio Zamboni, em sua tese (1998), traça um paralelo entre arte e
ciência e o contexto histórico da pesquisa em artes; ele explica que a área se
efetivou dentro do CNPq na década de 1980, criando modos de gerenciamento,
normatização e fomento das pesquisas.
Com
pouco mais de 50 anos dessa efetivação, vivemos agora um momento de ameaças de
cortes de investimentos e subsídios na pesquisa e educação. Por isso, ao invés
de uma tentativa de consolidação de um sistema por parte de artistas
pesquisadoras e pesquisadores, há uma postura autocrítica, gerando emergências
de outras formas, fazeres, vozes e saberes.
As
leitoras e leitores que não busquem neste texto algum
escrever é estar em contradição
pesquisar é também apontar a contradição
dentre
os motivos da impossibilidade de uma resposta e
a) Aquele
clichê de que há muito o que se dizer sobre escrita
e sobre o performativo – sim, há
diversos caminhos,
b) Uma
condição permissiva de escrita que a aproxima de existências mais do que de
significados, por se deixar influenciar pelas qualidades do que está entre,
pelo que não pode ser inteiramente capturado ou articulado e assim se tornar
uma experiência em seu próprio-movimento-próprio, cheia de possibilidades
relacionais;
c) O
fenômeno é relativamente novo, nos últimos 30 anos se intensificaram as
discussões do que pode ser a escrita na Pesquisa em Arte;
d) O
conceito de texto se dinamizou, está mais aberto e polissêmico, há uma maior
preocupação com sua produção e recepção, seus desdobramentos e metamorfoses.
AS VOZES DA
ESCRITA: O COTIDIANO, O PESSOAL, O POLÍTICO, O
CORPO, O TEXTO, A ESCRITA, AS VOZES DELAS, AS VOZES DELES
Ao
propormos um exercício performativo de escrita, que pudesse se estender dos temas
das pesquisas aos modos pelos quais os conhecimentos que ali urdimos ganham
forma e são compartilhados, perguntamos também quais estratégias de escritas
poderiam chamar atenção para as estruturas patriarcais e coloniais nas quais a
academia se sustenta. Perguntamos como essas escritas podem desvelar o
machismo, o racismo, o elitismo, institucionais e sistêmicos, incorporados
muitas vezes como hábito. Como uma outra forma de escrita poderia questionar
tais estruturas, fissurar, oferecer possibilidades, desempenhar um papel ativo
nas transformações das quais tanto necessitamos? Nesse contexto, é interessante
pensarmos nos feminismos, nos caminhos e contradições através dos quais eles se
estruturam enquanto movimento, e perceber, ali, percursos semelhantes ao
performativo como escrita acadêmica, como escrita possível na academia e,
finalmente, sua função na e para além da academia.
Ao
escrever, lembrar que (2020). Colagem.
Fontes: print de stories Instagram de Francisco Mallmann, página do The City Fix Brasil[10]
e fotografia de mostra na Pinacoteca de São Paulo[11]
Gloria
Anzaldúa, em Falando
em línguas: uma carta às mulheres escritoras do terceiro mundo, escreve:
Nós falamos em línguas, como os
proscritos e os loucos. Porque os olhos brancos não querem nos conhecer, eles
não se preocupam em aprender nossa língua, a língua que nos reflete, a nossa
cultura, o nosso espírito. As escolas que frequentamos, ou não frequentamos,
não nos ensinaram a escrever, nem nos deram a certeza de que estávamos corretas
em usar nossa linguagem marcada pela classe e pela etnia (Anzaldúa,
2000, p. 229).
Anzaldúa segue: “Escrevo para
registrar o que os outros apagam quando falo, para reescrever as histórias mal
escritas sobre mim, sobre você” (2000, p. 232). Contar a história apagada, usar
a linguagem marcada pela experiência, são caminhos possíveis para uma escrita
performativa, feminista, decolonial.
Nos
textos que compõem esta coletânea, acompanhamos uma busca por modos de escrita
que se desdobram em múltiplas estratégias e desejos: desierarquizar,
descolonizar, questionar estereótipos, construir pedagogias e métodos que
surjam da prática, da materialidade, do cotidiano, da experiência, do tempo
(cada vez mais fugidio) presente. Cartas, diagramas, imagens, fragmentos de
diário, notas, caixas de texto, dança, palavras pescadas, cantos, listas de
tarefas, bicicletas, vidros quebrados, citações, livros didáticos, fogo, terra,
ar, água, referências, louças na pia, alunas e alunos, processos criativos,
salas de aula, crianças, jovens, escolas, texturas, cores, peles, pesos,
quedas, sons, traços, biografias, autobiografias, ficções, autoficções,
f(r)icções, memória, imaginação, asfalto, areia,
travesseiros, ideias, sonhos, despertadores.
No
percurso de leitura perguntamos como escritas performativas e feminismos se
encontram, como uma escrita performativa pode ser também uma escrita feminista.
Percebemos que, por meio de diferentes recursos, as palavras e imagens revelam
o corpo de quem escreve, mostram a subjetividade desses corpos, sua história,
sua singularidade, unicidade; enfim, suas vozes.
O
conhecimento que cada pesquisa constrói e compartilha não é neutro: é
contextual, relacional, incorporado na prática artística, docente, acadêmica de
cada uma e de cada um. Tanto quanto os temas, interessam-nos os modos pelos
quais nos comunicamos, os modos pelos quais esses saberes estabelecem conexões
com o dia a dia, os modos pelos quais aprendemos e ensinamos, os modos pelos
quais podemos transformar(-nos). Quando nos
percebemos enredadas em uma estrutura que nos adoece, precisamos construir uma
rede que nos ampare, que nos permita dizer, pensar, cantar a muitas vozes: eu também. Assim, seguimos acreditando e
alimentado a potência da arte, da educação, da pesquisa, mesmo em momentos em
que elas sofrem tantos ataques.
bell hooks[13]
(2019; 2018), conta-nos sobre o surgimento do movimento feminista e sobre como
ele era, em seus inícios, estruturado pela prática, pela vida das mulheres.[14]
Pela percepção e afirmação das conexões entre o pessoal e o político. Tais
conexões — que a escrita performativa também estabelece quando opera um engajamento,
um investimento de si por parte de quem escreve — permitem que realizemos um
exercício de imaginação sociológica, conectando o cotidiano das autoras cujos
textos integram esta coletânea, às questões que nos afetam coletivamente. O
pessoal é político, e as cartas entre quatro artistas-pesquisadoras-professoras[15], os
relatos de práticas artísticas e docentes, falam e tocam a todas nós, a todos
nós. Ao falarem sobre suas experiências, elas falam sobre si e falam também
sobre nós. E falam conosco. Sua escrita é ação e convite para agir.
O
que seria o performativo que adjetiva as escritas aqui reunidas? Poderíamos
apontar como características do performativo: o apelo a outros modos de
percepção (e no caso do texto, a própria ressignificação do que é considerado
texto); o caráter processual, inacabado, de algo que está sendo feito, do que
está sendo composto através de uma colagem de diferentes formas e gêneros; o
espaço para o cotidiano, a não separação entre arte e vida; a (re)inscrição da arte no domínio político; o deslocamento
dos códigos; a possibilidade do risco, do malogro, do erro que acompanha a
tentativa; a ludicidade das formas visuais e verbais do discurso; a performatividade como experiência e como execução de uma
ação.
Percebemos
tais marcas nos textos com trechos riscados aparentes, acompanhando as decisões
e o investimento de tempo e energia, os movimentos de corpos e pensamentos, a videodança imaginada nas tarefas domésticas, os fragmentos
de caos e de cacos de vidro, as imagens que nos atropelam, o tempo que nos
atropela, nos cronometrados cinquenta minutos de uma aula de artes na escola
pública, os fragmentos de discurso nos diálogos entre pessoas afásicas, as
aproximações e afastamentos entre espaços e alteridades. O grande espaço vazio
nas páginas à espera, enquanto o ponto de inserção aguarda a digitação das
palavras.
Os
textos que seguem desafiam suas próprias autoras e autores a olharem para a
forma como escrevem, a perguntarem por que o fazem obedecendo a determinadas
formas e deixam outras tantas possibilidades. O que torna um texto “publicável”
em periódicos, “legível”, “compreensível”? No ensaio A língua. Ensinando novos mundos, novas palavras, bell hooks reflete sobre o
colonialismo que opera na linguagem, nos vínculos entre língua e dominação.
Como transformá-la numa contralíngua, num espaço de
resistência? Na escuta das canções dos escravizados afro-americanos, dos spirituals, bell hooks chama a atenção para as construções gramaticais que
quebram, despedaçam o inglês padrão:
[...]
o poder dessa fala não é simplesmente o de possibilitar a resistência à
supremacia branca, mas também o de forjar um espaço para a produção cultural
alternativa e para epistemologias alternativas - diferentes maneiras de pensar
e saber que foram cruciais para a criação de uma visão de mundo contra-hegemônica. (hooks, 2019,
p. 228).
Refletindo
a partir dessas considerações, reconhecemos, nas escritas que aqui
apresentamos, trechos em que uma fragmentação da língua e das estruturas da
escrita acadêmica se coloca em curso. Conhecer em fragmentos, conceber espaços
em que não compreendemos o todo é, segundo bell hooks, uma estratégia pedagógica e política: podemos ouvir
sem “dominar” ou “conquistar” a narrativa como um todo, podemos escutar sem
“tomar posse” da interpretação.
Entramos
em contradição. Revisamos os textos acossadas por uma tal “norma culta”.
Escrevemos aqui na língua de nossos colonizadores. Mas o que podemos fazer com
ela? E quantas outras línguas e saberes silenciados deveriam ocupar este
espaço?
Pensando
no que bell hooks (2018)
nos conta sobre a construção da teoria feminista, parece haver um paralelo, um
reconhecimento entre teoria feminista e pesquisa em arte (e sua escrita). Para
que(m) elas servem? Quando falamos, pensamos sobre, buscamos por modos de
escrita performativa, estamos buscando também um sentido para o que fazemos. Um
encontro transformador entre estética e política, uma busca por tornar
acessíveis os conhecimentos gerados nesse encontro. Algo ainda mais urgente
quando nos damos conta de que ocupamos espaços e recursos públicos e que tais
recursos devem ser partilhados, servirem ao bem comum e não se encerrarem em
muros de privilégios. bell hooks
nos diz: a academização pode enfraquecer o movimento
feminista, ao despolitizá-lo. Uma teoria que se restringe ao público acadêmico
torna-se um gueto com pouca conexão com o mundo lá fora. Precisamos basear
nossos estudos e pesquisas na comunidade, pensar em um comum. Alcançar além da
palavra acadêmica e até mesmo da palavra escrita, pensar outros recursos de
compartilhamento de conhecimento. Uma educação feminista, um conhecimento
feminista.
Compartilhar
experiências na escrita, escrever a partir da prática. Mas ainda e sempre é
preciso perguntar: quem está compartilhando suas experiências e práticas? A
escrita acadêmica precisa encarar suas contradições para que possa ser
inventada e reinventada a cada momento, a cada pesquisa. Nesta coletânea de
textos, houve tentativas de vincular o que jamais deveria ter sido desvinculado:
a subjetividade de quem pesquisa, com as pessoas, matérias, teorias, conceitos
que surgem desse investigar. O conhecimento e o cotidiano, a arte e a vida.
Esse conhecimento, essa arte, servindo como intervenção na vida, como
transformação da vida, desenhando-se como práxis, teoria e prática
informando-se mutuamente. Uma escrita que flexiona substantivos e adjetivos no
feminino nos faz pensar em gênero, em corpo, naquelas que estão por trás das
páginas, que escrevem as palavras. Nos obstáculos que encontram para conciliar
o trabalho acadêmico com o invisível e desvalorizado trabalho de reprodução
social. Nos obstáculos que encontram para ocuparem o espaço acadêmico. Quantas
mães pesquisadoras puderam participar desta coletânea? Quantas mulheres negras?
Indígenas? Trans? A escrita performativa é para que(m)?
Chamar
atenção para a impraticabilidade de apresentarmos uma proposição desveladora e encerrante não é um
pedido de desculpas por falta de acabamento, por possíveis ingenuidade(s) ou
por praxe. Pelo contrário, apresentam-se incertezas porque estamos cientes da
crescente instabilidade da produção e da própria sobrevivência
Por favor,
aperte essa ferida
tem coisa
que não se pode deixar passar batido
especialmente se essa ferida for excludente, racista, gordofóbica, misógina, transfóbica,
colonial ou complacente com violências. O perigo é real, e este não é algo que
queiramos correr aqui.
Mesmo
não sendo um desafio exclusivo das pesquisas em arte, escrever (na academia) é
por vezes ignorar grande parte da experiência. Ao buscar o que pode ser
isolado, traduzido e reproduzido das experiências sensíveis, reduzimo-las a experimentos - com exatidão, comprovação
científica, e até a possibilidade de previsões futuras[16].
No
entanto, é impossível cercar forças que atravessam o acontecimento – estão
entrelaçadas. O dilema da pessoa
pesquisadora-artista está posto: relacionar-se com o que é sensível,
instável e processual produzindo, através (da descrição) da experiência, uma
escrita que, por ser científica, tem por finalidade mostrar fontes, resultados
e conclusões.
O
QUE NÃO É ESCRITA PERFORMATIVA
A
escrita performativa não é uma guerra contra a ABNT.
A escrita
performativa não substitui e nem se pretende melhor que outras escritas, advoga
contra o perigo da História Única[17] que
cria e perpetua noções i
Ah! Que
difícil!
Estou
carregando cinco livros na mochila, o computador, a garrafa d’água e uma blusa
para aguentar o frio da biblioteca. Estou empacada, sentada há horas na frente
disso aqui.
Já comecei
isso várias vezes e nada deslancha.
Não dá para
escrever isso sem explicar aquilo.
Será que rola
uma nota de rodapé?
Onde é que
tá aquela referência mesmo?
Tinha
certeza que era desse livro.
Queria ter
escrito esse livro.
Quais são
suas referências?
Para quem
você escreve?
Escreve isso
que você falou agora.
Será que tem
algum lugar para publicar esse texto assim?
E se a gente
inventasse um espaço para caber?
Qual o prazo
de submissão mesmo?
...tudo começou assim:
Ines Saber propôs que a pesquisa de seu doutorado em Teatro fosse não somente a
análise de um corpo de dados, mas uma coleção de ações coletivas.
Foi aí que surgiu uma chamada aberta para pesquisadoras e
pesquisadores de pós-graduação em artes cênicas, teatro, dança e performance
para a publicação de uma coletânea de textos cujos temas elencados foram: as metodologias que inventamos; a relação
de duas mãos entre modo e conteúdo; as atualizações e alternativas aos formatos
tradicionais; as reflexões sobre nossa postura frente às práticas de pesquisa e
O
convite para a escrita dessa coletânea foi bem amplo, sem restrições
pré-estabelecidas quanto a formatação: nem referências, nem citações precisavam
se restringir às normas ABNT, mas precisavam estar presentes de alguma forma -
plágios não seriam aceitos. A escrita poderia tomar a forma que lhe coubesse,
ou ainda, inventar outras formas, expandir seu espaço de ocupação, explorar o
infinito que cabe em uma folha A4.
A divulgação da
chamada para publicação foi feita inicialmente em julho de 2019, através de
e-mails para discentes do Programa de Pós-Graduação em Teatro da UDESC e para
diferentes endereços eletrônicos de coordenações e secretarias de
Em Setembro de
Até o fim de setembro Ines recebeu quase 40 textos. A
possibilidade de elaboração de uma coletânea de escrita, seja ela prática,
crítica e política, tema, método e ação, de pessoas pesquisadoras e
DAS
NOSSAS ESCRITAS PERFORMATIVAS: TENTATIVAS,
FRACASSOS, EXPERIÊNCIAS E FLERTES
Nós
nos reunimos a primeira vez para olharmos os textos recebidos, um grupo
inicialmente formado por estudantes de
A curiosidade
pairava
A Academia
é um lugar de produção de discurso e cria um regime de autorização discursiva,
que por sua vez é “ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e
redistribuída por [...] procedimentos que
A
exemplo disso, segundo os dados apresentados em Pequeno Manual Antirracista
(Ribeiro, 2019, p. 49) só em 2012 foi implantada a lei de cotas federais nas
instituições brasileiras de ensino superior;
em 2018, vemos o reflexo dessa mudança quando a estatística mostra que a
maioria dos estudantes é negra (51,2%).
Sabemos
que o “nós” dos textos acadêmicos ainda não necessariamente abarca vozes
pobres, negras, transfeministas e outras muitas
intersecções; afinal a academia é reflexo de um projeto europeu, branco e
patriarcal. Não podemos nos esquecer que a linguagem é coerciva e naturalmente
expropriada de experiência. Na busca por construir coletivamente
Durante
os encontros nosso posicionamento, enquanto coletivo, foi tomando corpo através
do reconhecimento de tensões no nosso próprio fazer, entre o que se espera do
trabalho de edição em publicações acadêmicas e os caminhos possíveis para fazer
da academia um ambiente poroso - um espaço de insurgências de saberes que foram
(e têm sido) outros para a academia. Em tempos de ameaças de desmontes da
educação, a procura por outros modos de escrita é um
Com
essa reflexão veio também o questionamento sobre nossa imagem. Por estarmos lidando com jogo de poderes,
como poderíamos criar e manter um lugar de liberdade, inventividade e jogo sem
abdicar de responsabilidades?
Debochando
de nós mesmas.
Imagem - Parte do
Coletivo Escrita Performativa - Do tema aos modos, reflexões e invenções: a pesquisa
em arte e as escritas da pesquisa (Perucas de Suzaninha Richthofen[18]). Foto: Luan Nagib, 2019. Fonte: Acervo pessoal
Em nossas
estratégias de desestabilizar a ordem e despertar a curiosidade
Mineira, professora com formação em dança, mestra em artes
cênicas, doutoranda em artes, pesquisadora de performance, jogo e fluxo na
educação. Artista da dança, articula o ajuntamento
abrindo a sala, que convida pessoas de diferentes querências e práticas a (se)
ajuntarem (em) poéticas da convivência. Investiga modos de composição a partir
dos conhecimentos e sabores do que não-se-sabe. Performer
e educartista. Brinca com as possibilidades de
aprendizagem que emergem de práticas performativas, dos não-saberes. Ressoam em
seu corpo e interesse vozes das artes, da literatura e da filosofia. Professora/Artisteira. Propositora de
invencionices brincantes com crianças pequenas. Habitante de muitas casas.
Casa/Chão; Casa/Vento; Casa/Infância; Casa/Porão; Casa/Invenção; Casa/Escola;
Casa/Vôo; Casa/Ficção; Casa/Sonho; Casa/Pesquisa;
Casa/Devaneio; Casa/Teatro; Casa/Escritura. Lembro-me
ainda do arrebatamento pela Arte quando ainda bem pequena deparei-me com um
quadro que tinha uma fotografia de uma bailarina. Dancei, me formei em Teatro e
tenho me tornado atriz e professora. Enquanto atriz, me dedico a
investigar as artes performativas; enquanto professora, sigo atravessada pelo
meu interesse pela criança, por seu modo de ser e estar na arte e na vida. O
que podemos fazer de Teatro com crianças tão pequenas?” A resposta: TUDO. Atriz, professora, gosta de escutar as vozes das pessoas e
prefere cantar a falar. Quando ainda podia contar a idade nos dedos de uma
única mão, transformou em microfone um pedaço de cano de PVC. Ao encontrar
dramaturgia na estante da biblioteca da escola, decidiu brincar de teatro e o
fez. E o faz. Tem meia dúzia de gatos: uma delas se chama Cigana e gosta de
acompanhar as escritas deitada sobre livros e anotações feitas à mão. Professorartista pesquisadora gaúcha
residente em Brasília com experiências múltiplas em dança e teatro. Meditadora.
Investigadora de processos em dança contemporânea desde 2009. Mestra e Doutora.
Diretora. Terapeuta Reiki. Professoramiga confidente.
Consteladora Familiar (em formação). Professora de
uma licenciatura em dança e integrante de grupo de pesquisa em improvisação. Pesquisadora e artista das
artes do corpo. Meus trabalhos têm como eixo central as emergências,
insurgências e potências que acontecem e fazem parte do corpo, constituindo-se
de obras autorais e trabalhos coletivos com artistas parceiros. Atriz, bailarina, gosta muito de teatro de bonecos. Se arrisca
em instrumentos percussivos e adora música brasileira. Nasceu em uma família de
artistas o que, para ela, foi de vital importância para sua formação que se
deu, sobretudo, do lado de fora da Academia. Ama cachorros e dias de sol.
Prefere teatro a cinema. Não acredita no capitalismo. Gosta de escrever
despretensiosamente. Tem a sorte de amar o que faz. Artista pop-nerd das visualidades do espaço e do tempo. Montando
alegorias críticas sobre as possibilidades revolucionárias dos jogos, hqs, rpgs, cosplays, séries e
filmes. Atriz, performer, encenadora, diretora,
dramaturga e escritora. Professora-estudante,
pesquisa e escreve “com” e “entre”; corpo, escrita, dança, performance e
poesia, e faz de sua tese um conjunto de ações: propor coletivamente espaços e
experiências coletivas de outras escritas em Pesquisas em Artes. Atriz, professora e diretora de Teatro desde
1991. Pesquisadora-artista-educadora,
montanhista-dançarina, mãe, filha, (e aqui sobretudo) neta, artífice,
costureira e bordadeira, graduada em dança, mestre em comunicação e semiótica,
doutoranda em artes cênicas e professora. Artista cênica
de interlinguagens e indisciplinar, produtora
cultural, pesquisadora e provocadora de processos artístico-pedagógicos psicomágicos em contextos escolares e não-escolares. Faz questão de ser chamada de bailarina gorda. É paulistana
filha de mineiros. Mudou-se para Florianópolis não pela praia, mas para
integrar uma companhia profissional de dança, trabalhando ali por dez anos. Sua
pesquisa acadêmica é interdependente de sua prática como artista.
Interessa-se por poéticas e políticas de movimento e posicionamento através da
dança. Paulistano de nascimento, campineiro de formação e curitibano de
morada, é membro fundador da quandonde intervenções
urbanas em arte, palhaço (atuação e direção), vegano, pai da Luísa, ciclista e
antifascista. Professor,
diretor e ator. Estuda (des)hierarquização das
funções teatrais, relações de poder e encenação teatral. Atualmente está
interessado em processos e pessoas que estudam o aprender a aprender. Nasceu em 1990 na
cidade de Peritiba e foi criada no interior da cidade
de Concórdia, SC. Vive na ilha de Florianópolis há 10 anos, onde cursou a licenciatura
em Artes Visuais. Viveu na Bolívia em 2013 e em Portugal em 2015/2016, onde
estudou e trabalhou. Produz a partir da origem e prática camponesa, comunitária
e matriarcal, articulando tentativas e processos de arte e de vida. Sombriense, artista visual,
atualmente vive e trabalha em Florianópolis. Investiga processos de escrita e
modos de leitura, propondo relações e tensões via a série de trabalhos mapas/esquemas/diagramas.
Pensa o pensar o processo enquanto obra. Sou performer-cartógrafa-pesquisadora-docente. Minhas investigações
ocorrem nos cruzamentos e nas linhas de fuga entre performance, teatro e dança.
Meu processo de criação se desdobra em perguntas que estão continuamente se
atualizando. Eis algumas perguntas da minha coleção: como desacostumar o
olhar?; como estar à altura do que me acontece?; como contra efetuar os
acidentes em vez de ressenti-los?
Para
muitas pessoas artistas-acadêmicas o trabalho não é a escrita sobre, mas a
escrita: da, na e com pesquisa. Sabe-se que a Pesquisa em
Artes na academia seguiu os moldes das ciências humanas se estruturando,
principalmente, em um fazer sobre algo. Artistas[20]
que se tornaram docentes na academia mencionam a dificuldade de conciliar a
pesquisa artística com a prática acadêmica, questão recorrente em alguns textos
desta coletânea. Percebemos que a proposição desta coletânea foi um espaço para
o exercício de uma escrita artística-acadêmica, enquanto tema e modo, uma
maneira de aliar a pesquisa acadêmica e a pesquisa na prática artística.
Em
algum momento de nossa trajetória enquanto Corpo Editorial, perguntaram-nos por
que esta não seria uma publicação independente; buscamos uma parceria com
professoras[21] na
área de Artes já experientes na organização de dossiês e publicações em
periódicos acadêmicos. Acreditamos que a publicação em uma revista acadêmica
veio como forma de garantir, através da escrita, um lugar da produção acadêmica
nas artes cênicas nas vertentes feministas, decoloniais
e insurgentes que desafiam o sistema vigente. Acreditamos que pesquisa em arte
tem modos de revelar processos históricos, sociais, éticos, políticos – a
possibilidade de um giro através de um processo inventivo. A escrita
performativa em revistas acadêmicas, portanto, se mostra um espaço de debate e
realização desses modos, tanto de temas como de formas de pesquisa; uma demanda
da classe por outras experiências incluídas no espaço reflexivo da academia.
Tanto
se fala da necessidade de escuta daqueles que sempre foram autorizados a falar.
Publicar textos performativos em uma revista acadêmica é, antes de mais nada, a
possibilidade de desenvolver um lugar de
escuta, para que o conhecimento que produzimos permita também insurgências
de ferramentas, de modos e saberes próprios, para que outras pesquisas possam
vir a criar métodos acadêmicos. É a busca de uma escrita acadêmica que não seja
a manutenção de uma produção reduzida, protegida e conservadora, mas que seja
uma construção coletiva de fundamentos, saberes e redes.
Com
a perspectiva de construir coletivamente com as autoras e autores que
contribuíram para esta coletânea, pensamos em estratégias de seleção dos
materiais que nos chegaram de forma que não priorizássemos nenhum parâmetro
formal pré-estabelecido, pois este já é um modelo bastante adotado em processos
editoriais de revistas acadêmicas – nestas geralmente adaptamos nossos textos
aos critérios e normas já existentes.
O
importante para nós era fazer com que as experiências de escritas e
metodologias das pesquisas não fossem apenas tema, mas um exercício reflexivo de
e com forma e conteúdo. Receberíamos
Pensar
em uma escrita performativa é também trabalhar com idas e vindas, costuras,
mapeamentos, fissuras. Convidamos pessoas que defendem outras escritas,
sugerimos autorias coletivas. Os textos vieram, voltaram, vieram, voltaram,
vieram... e alguns textos foram inteiramente reescritos.
As
solicitações inicialmente enviadas através de comentários no documento se
tornaram apenas o início da interlocução, quase que unanimemente seguidas de “mas como vou fazer isso?”. Para tanto,
ajustes e concessões foram feitos para chegar a possíveis soluções; estratégias
foram experimentadas por ambas as partes (pessoas editoras e escritoras)
Cada texto desta coletânea é de fato um universo, resultado de uma
extensa negociação entre a equipe organizadora e as autoras e autores que colaboraram
na escrita. Por se tratar de um volume especial, as normas de submissão da
revista DAPesquisa
ficaram suspensas.
Entendemos o texto como espaço investigativo em todos os seus
desdobramentos, tais como os que acontecem nas inúmeras possibilidades de
intersecção entre palavra e imagem. Muitos textos custaram muitas idas e vindas
para que se chegasse a uma estrutura de diálogo entre prática
artística/pedagógica e escrita performativa. Alguns apresentaram uma relação
mais intrínseca entre forma e conteúdo: trouxeram exemplos práticos,
explicitaram a escolha das referências e aprofundaram os temas propostos. Mas
houve outros ainda os que não contestaram de maneira direta as estruturas
tradicionais do texto acadêmico, ainda que estratégias que se opõem a um
pensamento acadêmico epistemicida.
Pudemos pensar, através
dos textos recebidos, possibilidades de escrita coerentes com nossos temas e
modos de pesquisa, e entender também que publicar um dossiê de textos
performativos significa ter muito mais passos para todas as pessoas envolvidas
do que teria uma organização de um volume de revista – a descoberta foi mesmo
coletiva.
Sendo assim, a
coletânea tem a singularidade de cada pesquisa das pessoas colaboradoras e,
enquanto um conjunto, é um convite à leitura de outros formatos e lógicas de
escrita e potencial de desdobramentos, tornando-se um espaço e convite para
seguir vestígios e pistas que não cabem no texto dito “acadêmico”, através do
questionamento, enquanto tema e modos, dos próprios
O PORQUÊ DA
ESCRITA
PERFORMATIVA
Em
geral, mesmo em Artes, temos uma produção de escrita acadêmica bastante
condicionada, que
No
entanto, a acusação de que as ciências sociais, por
terem como objeto o ser humano, afetariam o processo de conhecimento por
estarem impregnadas de subjetividade, é colocada em xeque já no início
do século XX com a Teoria da Relatividade de Albert Einstein (1991).
Por
outro lado, em outras áreas, a escrita foi pensada junto desse processo. Michel
de Montaigne (2002) escrevia em primeira pessoa no século XVI, incorporando em
seu procedimento, suas ações críticas sobre o saber humano. Em 1580, ao
publicar Os Ensaios, cunha
Isto
posto, é possível observar que há uma dualidade na prática da escrita, presente
ainda em algumas áreas e setores da academia. O teatro é
Alguns
conceitos foram chave de entendimento para a nossa conversa com as
pesquisadoras e os pesquisadores pela familiaridade destes. Na última década,
especialmente, inúmeros estudos acadêmicos têm se utilizado dos termos performance, performance art,
performativo, performático e a
escrita performática em diferentes áreas do conhecimento.
Ao
nos aproximarmos da artista e teórica mexicana Diana Taylor (2013, p.45),
compreendemos aqui a performance mais do que um tema de estudo, uma vez que
para ela, a performance é mais do que um campo artístico, é uma episteme, um
modo de conhecer. Sua escrita não possui o
Defendemos então que o
exercício da performance na pesquisa e na escrita é um desdobramento da
pesquisa em artes, o exercício de outros modos em nossas práticas de arquivo
enquanto acadêmicos. Sendo
assim,
ESCREVER NA PESQUISA é o exercício de se permitir perceber que
nossa percepção é um processo dialógico de fazer e referenciar, e que não é,
mas está sempre em relação (Goffmann, 1959), sem uma
estrutura fixada, mas mutável.
ESCREVER NA PESQUISA é compreender a fala, e consequentemente a
escrita, como um ato (Austin, 1990): nossos enunciados (e nossos corpos) podem
intervir, instaurar modos de ser/estar no mundo (
ESCREVER
NA PESQUISA é um
entrelugar das pessoas pesquisadoras-artistas que restaura procedimentos criativos, críticos, repensando nosso papel
social (Schechner, 2006).
ESCREVER NA PESQUISA, mais do que comparações e valorizações pela
crítica, é uma atitude de busca ativa da construção e manutenção de um lugar de
diálogo, articulação de redes de pessoas, lugares, coisas, animais,
instituições (Latour, 2012).
O que não podemos perder de vista é que, por estarmos lidando com
pesquisa em arte, buscamos modos de
tomar consciência,
e buscar relações,
experimentar possibilidades
conhecer subjetividades,
praticar a liberdade,
deixar emergir,
subverter lógicas
_____________________(preencher com
mais possibilidades)
Que a escrita aqui seja um ato, uma des-coberta de existências, mais do que uma descrição ou
justificativa de nossas pesquisas. Que este seja um convite para a prática da
escrita performativa na academia, e para um início de conversa.
As maneiras de continuarmos esta conversa são
inúmeras, se você, leitora e leitor, tiver uma proposta, comentário, sugestão,
desabafo que queria nos trazer, nosso contato é escritaperformativa@gmail.com .
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[1] O termo artista-etc foi cunhado por Ricardo
Basbaum e originalmente publicado no texto em inglês I love etc-artists, parte do projeto The next Documenta should be curated by an artist, Basbaum propõe
um artista de múltiplas camadas, provocando relações arte-e-vida. O texto em
português foi publicado no Manual do artista-etc., em 2013, pela Azougue
Editorial.
[2] Podemos dizer que o paradigma implica um movimento
que vai de singularidade em singularidade e que, sem abandoná-lo, transforma
cada caso singular em uma cópia de uma regra geral que nunca pode ser formulada
a priori. (Agamben, 2010, p.29).
[3] Outro termo cunhado por Ricardo Basbaum:
intersectando o espectador (aquele que observa) e o expectador
[4] [...] esta fase de mudança na cultura das artes é
comparável, em extensão e profundidade, à transição que ocorreu entre os finais
do século XVIII e meados do século XIX. (Laddaga, 2012, p.9).
[5] Cf: Brad
Haseman (2006).
[6] Cf:
Ciane Fernandes (2014).
[7] Cf:
Sylvie Fortin & Pierre Gosselin (2009) e Camila Santos & Gisela
Biancalana (2017)
[8] Cf: Eduardo
Passos, Virgínia Kastrup e Liliana Escóssia (2009).
[9] Cf: Luciana
Lyra (2010).
[10] Disponível em: https://www.thecityfixbrasil.org/2012/01/11/chines-transforma-mais-de-mil-bicicletas-em-obra-de-arte/
[11] Disponível em: https://www.picuki.com/media/2107665518971156932
[12] Referência ao livro A
aventura de contar-se: Feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade
(2013), da historiadora feminista Margareth Rago. Nele, a autora fala das narrativas
autobiográficas com as quais os feminismos puderam afirmar novos modos de
existência. A relação entre escrita feminista e performativa é feita aqui a
partir desse "contar-se/contar-nos", que revela nossos corpos na
escrita.
[13] Teórica feminista, ativista social, professora e artista estadunidense. Gloria Jean Watkins adotou o pseudônimo bell hooks para sua produção artística e intelectual, inspirada em sua bisavó materna. Ela afirma que seu uso inconvencional das letras maiúsculas tem dois motivos: a diferenciação entre ela e sua bisavó e o enfoque ao que é mais importante em sua obra – sua escrita e não sua pessoa.
[14] bell hooks nos conta também sobre a importância das
discussões sobre raça e classe em um feminismo que seja realmente
revolucionário. A igualdade de gênero não pode ser pensada sem a quebra das
visões utópicas de sororidade, sem a consideração das diferenças que, na
estrutura social existente, mantêm a opressão de mulheres racializadas e/ou
pobres enquanto confere poder a mulheres brancas e economicamente
privilegiadas.
[15] Uma de nossas ações foi aproximar algumas autoras
através de uma troca de cartas, esta parece nos dar pistas para entender o que
pode ser uma escrita performativa. Não é apenas o formato da carta (ou qualquer
formato diferente de uma formatação tradicional acadêmica) que garante uma
performatividade. O que está em jogo não é apenas o formato. A primeira carta
suscita o debate pela reflexão sobre e com o fazer. A escrita
dessas quatro mulheres é um convite às metodologias que se desvendam na
prática.
[16] O filósofo Agamben em Infância e História (2005) explica que nós, sujeitos
contemporâneos, estamos expropriados de experiência, o que, de certa maneira,
“é uma consequência que estava implícita no projeto fundamental da ciência
moderna” (p.25-26).
[17] Alusão à palestra O
perigo da história única (2009) da escritora nigeriana Chimamanda Adichie, disponível em: https://www.ted.com/talks/chimamanda_ngozi_adichie_the_danger_of_a_single_story/.
[18] Personagem drag
queen de Arthur Gomes, disponível em: https://www.instagram.com/risotril/.
[19] Muitas dessas minibios, concedidas pelas pessoas autoras dos textos desta edição, estão também presentes na apresentação das autorias de cada texto.
[20] A título de curiosidade citamos três profissionais de
disciplinas distintas: Tereza Rocha (2016), dramaturga e professora na graduação em dança (UFCE), em uma
palestra de apresentação de seu livro O
que dança contemporânea? (2016) questiona com
[21] Tereza Franzoni e Monique Vandressen, ambas
professoras do Programa de Pós Gradução em teatro da UDESC.