O que � escrita performativa?

What is performative writing?

 

In�s Saber de Mello

Doutoranda e mestra em Teatro da UDESC, graduada em letras (UFPR) e em dan�a (UNESPAR); professora-estudante, faz uma meta-pesquisa buscando a��es, espa�os e experi�ncias coletivas de escritas

inessaber@gmail.com https://orcid.org/0000-0002-9427-9844

Franciele Machado de Aguiar

Doutoranda em Teatro na UDESC, mestra em Artes C�nicas e bacharela em Teatro pela UFRGS. Atriz, professora, gosta de cantar e de escutar as vozes das pessoas.� aguiafranciele@gmail.comhttps://orcid.org/0000-0002-0327-247X

Jussara Belchior Santos

Bailarina gorda. Doutoranda e Mestra em Teatro da UDESC. Criou Peso Bruto (2017), para discutir corpo gordo na dan�a. Interessa-se por po�ticas e pol�ticas de movimento e posicionamento atrav�s da dan�a

jusbelchior@gmail.comhttps://orcid.org/ 0000-0002-8592-6229

Luane Pedroso de Oliveira

Doutoranda e mestra em Teatro da UDESC. � atriz, bailarina, gosta muito de teatro de bonecos. Arrisca-se em instrumentos percussivos e adora m�sica brasileira. Nasceu em uma fam�lia de artistas, o que para ela foi de vital import�ncia em sua forma��o, que se deu, sobretudo, do lado de fora da Academia. Tem a sorte de amar o que faz.

luane.mainha@gmail.com https://orcid.org/0000-0001-8127-617X

Matheus Abel Lima de Bitencourt

� artista visual e mestrando em Processos Art�sticos Contempor�neos na UDESC. Investiga processos de escrita e modos de leitura. Pensa o pensar o processo enquanto obra

talveztenhaavercomarte@gmail.comhttps://orcid.org/0000-0002-2214-4377

Tereza Mara Franzoni

Professora do Departamento de Artes C�nicas e do Programa de P�s Gradua��o em Teatro da UDESC. Possui doutorado e mestrado em Antropologia Social da UFSC e gradua��o em Ci�ncias Sociais pela UFSC

franzoni@gmail.com https://orcid.org/0000-0003-2498-085

 

Resumo

Este texto � uma apresenta��o de formula��es, modos e imagens a partir da pergunta-t�tulo �o que � escrita performativa?�, apresentando a colet�nea de textos da proposta Do tema aos modos, reflex�es e inven��es: pesquisa em artes e as escritas da pesquisa, produzidos por artistas-pesquisadoras e pesquisadores de diferentes universidades brasileiras, que trazem consigo o interesse e exerc�cio reflexivo da Pesquisa em Arte na e pela escrita, atrav�s de seus procedimentos e possibilidades.

Palavras-chave: Artes c�nicas. Escrita e arte. Performance (Arte).

 

Abstract

This text is a presentation of formulations, ways and images based on the title question 'what is performative writing?', presenting the collection of texts from the proposal From theme to ways, reflections and inventions: research in arts and research writing, produced by artist-researchers from different Brazilian universities, who bring with them the interest and reflective exercise of Research in Art in and through writing, sharing their procedures and possibilities.

Keywords: Performing arts. Writing and art. Performance art.

 

DOI: http://dx.doi.org/10.5965/1808312915252020e0015

Recebido em: 10/06/2020

Aceito em: 07/07/2020

 


 

e o que � o que � o que � o que � o que � o que � o que � o que � o que � ESCRITA? o que � o que � o que � o que � o que � o que � o que � o que � a ESCRITA de ARTISTA? e o que � o que � o que � o que � o que � o que � o que � PESQUISA? e o que � o que � o que � o que � o que �o que � o que � o que � a ESCRITA NA PESQUISA? e o que � o que � o que � o que � o que � o que � PESQUISA EM ARTE? e ent�o o que � e por que � o que � O que � ESCRITA PERFORMATIVA?

 

este texto foi produzido por artistas-etc.[1]:

 

Caras leitoras e leitores,

Gostar�amos de tentar conciliar coisas diferentes neste texto que se abre para tratar da escrita nas pesquisas em Artes C�nicas: a nossa a��o enquanto Corpo Editorial, um breve apanhado dos conceitos e pr�ticas que nos permitem pensar a escrita na academia.

O ponto de partida � anterior ao m�todo. Segundo o fil�sofo italiano Giorgio Agamben (2010), o m�todo na pesquisa nas ci�ncias humanas n�o � anterior � pr�tica; os procedimentos de investiga��o s�o definidos a posteriori[2] j� que o h�bito de pensar destas � longo e cont�nuo.

Na arte, especialmente na forma como � feita hoje, � poss�vel listar uma s�rie de raz�es para que os m�todos tenham car�ter processual, pass�vel de mudan�as. Dentre algumas est�o: a fragmenta��o, a provisoriedade, o sintom�tico, a continuidade de pr�ticas (que podem vir a gerar produtos e a��es); o borramento das no��es de participa��o e autoria, artista e espectadoras(es); as proposi��es que n�o excluem a possibilidade da cat�strofe, as reconfigura��es que moldam a��es e/ou formas.

Um exemplo desse car�ter processual pode ser notado no trabalho do artista estadunidense Lawrence Weiner (2014), que o descreve como algo constitu�do de frases ou palavras adesivadas em grande escala em paredes ou fachadas de pr�dios � estas, na realidade, s�o esculturas: "o significado das palavras quase sempre muda. Mas as coisas em si, n�o". Partindo desse ponto, Weiner indica que seu trabalho n�o apresenta "met�fora alguma", mas deixa aberto seu significado para que o es/xpectador[3] utilize-o como lhe parecer melhor, criando assim seu pr�prio significado particular para cada pessoa.

O professor e pesquisador argentino Reinaldo Ladagga afirma que estamos em uma fase de mudan�a de cultura nas artes[4]; em Est�tica da Emerg�ncia (2012), aponta uma disposi��o � reflexividade nas artes, trazida pelo modernismo � que para o autor ainda n�o foi superado � direcionando a eros�o da certeza do conhecimento, ou seja, �toda posi��o estabelecida deve ser considerada a priori suscet�vel de revis�o� (p. 60-62). Ao pesquisar artes, precisamos, ent�o, estar cientes da transitoriedade dessa fase: desgarrar de um sistema de pesquisa fechado e permitir que outras formas e pr�ticas surjam.

O termo Pesquisa em Artes � bastante difundido no Brasil, remete-se ao trabalho de pesquisa realizado por artistas com uma dupla face: a cria��o art�stica/o processo de investiga��o e a apresenta��o dos resultados/reflex�es deste trabalho. Silvio Zamboni, em sua tese (1998), tra�a um paralelo entre arte e ci�ncia e o contexto hist�rico da pesquisa em artes; ele explica que a �rea se efetivou dentro do CNPq na d�cada de 1980, criando modos de gerenciamento, normatiza��o e fomento das pesquisas.

Com pouco mais de 50 anos dessa efetiva��o, vivemos agora um momento de amea�as de cortes de investimentos e subs�dios na pesquisa e educa��o. Por isso, ao inv�s de uma tentativa de consolida��o de um sistema por parte de artistas pesquisadoras e pesquisadores, h� uma postura autocr�tica, gerando emerg�ncias de outras formas, fazeres, vozes e saberes.

���� O exerc�cio intelectual e est�tico da constru��o da Pesquisa em Artes (e sua escrita) � consonante com o per�odo de transitoriedade da cultura das artes e do movimento de e para a coletividade, atravessado por experi�ncias (sociais, coletivas e tamb�m pessoais) de leitura, de arte e de vida. Este exerc�cio tem diversas faces como cria��o, cr�tica e ensino, e diferentes manifesta��es e metodologias. Dentre as metodologias e caminhos de pesquisa que apareceram nesta colet�nea listamos: Pesquisas guiadas pela pr�tica como a Pesquisa Performativa[5] e a Pesquisa Som�tico Performativa[6]; h� tamb�m os caminhos da Etnografia, Autoetnografia[7], Pesquisa Cartogr�fica[8], Artetnografia e Mitodologia em arte[9], que reverberam em escritas fragment�rias, epistolares, ensa�sticas e narrativas.

As leitoras e leitores que n�o busquem neste texto algum tipo de resolu��o,

escrever � estar em contradi��o

pesquisar � tamb�m apontar a contradi��o

dentre os motivos da impossibilidade de uma resposta encerrada, podem ser facilmente listados alguns:

a)      Aquele clich� de que h� muito o que se dizer sobre escrita e sobre o performativo � sim, h� diversos caminhos, alguns concomitantes, outros divergentes que tornam escolha, qualquer que seja ela, a exclus�o de possibilidades que poderiam e talvez devessem ser fundantes;

b)      Uma condi��o permissiva de escrita que a aproxima de exist�ncias mais do que de significados, por se deixar influenciar pelas qualidades do que est� entre, pelo que n�o pode ser inteiramente capturado ou articulado e assim se tornar uma experi�ncia em seu pr�prio-movimento-pr�prio, cheia de possibilidades relacionais;

c)      O fen�meno � relativamente novo, nos �ltimos 30 anos se intensificaram as discuss�es do que pode ser a escrita na Pesquisa em Arte;

d)      O conceito de texto se dinamizou, est� mais aberto e poliss�mico, h� uma maior preocupa��o com sua produ��o e recep��o, seus desdobramentos e metamorfoses.

 

AS VOZES DA ESCRITA: O COTIDIANO, O PESSOAL, O POL�TICO, O CORPO, O TEXTO, A ESCRITA, AS VOZES DELAS, AS VOZES DELES

 

Ao propormos um exerc�cio performativo de escrita, que pudesse se estender dos temas das pesquisas aos modos pelos quais os conhecimentos que ali urdimos ganham forma e s�o compartilhados, perguntamos tamb�m quais estrat�gias de escritas poderiam chamar aten��o para as estruturas patriarcais e coloniais nas quais a academia se sustenta. Perguntamos como essas escritas podem desvelar o machismo, o racismo, o elitismo, institucionais e sist�micos, incorporados muitas vezes como h�bito. Como uma outra forma de escrita poderia questionar tais estruturas, fissurar, oferecer possibilidades, desempenhar um papel ativo nas transforma��es das quais tanto necessitamos? Nesse contexto, � interessante pensarmos nos feminismos, nos caminhos e contradi��es atrav�s dos quais eles se estruturam enquanto movimento, e perceber, ali, percursos semelhantes ao performativo como escrita acad�mica, como escrita poss�vel na academia e, finalmente, sua fun��o na e para al�m da academia.

 

Ao escrever, lembrar que (2020). Colagem.Fontes: print de stories Instagram de Francisco Mallmann, p�gina do The City Fix Brasil[10] e fotografia de mostra na Pinacoteca de S�o Paulo[11]

 

Gloria Anzald�a, em Falando em l�nguas: uma carta �s mulheres escritoras do terceiro mundo, escreve:

N�s falamos em l�nguas, como os proscritos e os loucos. Porque os olhos brancos n�o querem nos conhecer, eles n�o se preocupam em aprender nossa l�ngua, a l�ngua que nos reflete, a nossa cultura, o nosso esp�rito. As escolas que frequentamos, ou n�o frequentamos, n�o nos ensinaram a escrever, nem nos deram a certeza de que est�vamos corretas em usar nossa linguagem marcada pela classe e pela etnia (Anzald�a, 2000, p. 229).

 

 

Anzald�a segue: �Escrevo para registrar o que os outros apagam quando falo, para reescrever as hist�rias mal escritas sobre mim, sobre voc� (2000, p. 232). Contar a hist�ria apagada, usar a linguagem marcada pela experi�ncia, s�o caminhos poss�veis para uma escrita performativa, feminista, decolonial.

Nos textos que comp�em esta colet�nea, acompanhamos uma busca por modos de escrita que se desdobram em m�ltiplas estrat�gias e desejos: desierarquizar, descolonizar, questionar estere�tipos, construir pedagogias e m�todos que surjam da pr�tica, da materialidade, do cotidiano, da experi�ncia, do tempo (cada vez mais fugidio) presente. Cartas, diagramas, imagens, fragmentos de di�rio, notas, caixas de texto, dan�a, palavras pescadas, cantos, listas de tarefas, bicicletas, vidros quebrados, cita��es, livros did�ticos, fogo, terra, ar, �gua, refer�ncias, lou�as na pia, alunas e alunos, processos criativos, salas de aula, crian�as, jovens, escolas, texturas, cores, peles, pesos, quedas, sons, tra�os, biografias, autobiografias, fic��es, autofic��es, f(r)ic��es, mem�ria, imagina��o, asfalto, areia, travesseiros, ideias, sonhos, despertadores.

No percurso de leitura perguntamos como escritas performativas e feminismos se encontram, como uma escrita performativa pode ser tamb�m uma escrita feminista. Percebemos que, por meio de diferentes recursos, as palavras e imagens revelam o corpo de quem escreve, mostram a subjetividade desses corpos, sua hist�ria, sua singularidade, unicidade; enfim, suas vozes. Nessa aventura de contar-nos[12] alcan�amos o coletivo a partir da experi�ncia, e n�o de generaliza��es que invisibilizam a diferen�a em nome de pretensas universalidades.

O conhecimento que cada pesquisa constr�i e compartilha n�o � neutro: � contextual, relacional, incorporado na pr�tica art�stica, docente, acad�mica de cada uma e de cada um. Tanto quanto os temas, interessam-nos os modos pelos quais nos comunicamos, os modos pelos quais esses saberes estabelecem conex�es com o dia a dia, os modos pelos quais aprendemos e ensinamos, os modos pelos quais podemos transformar(-nos). Quando nos percebemos enredadas em uma estrutura que nos adoece, precisamos construir uma rede que nos ampare, que nos permita dizer, pensar, cantar a muitas vozes: eu tamb�m. Assim, seguimos acreditando e alimentado a pot�ncia da arte, da educa��o, da pesquisa, mesmo em momentos em que elas sofrem tantos ataques.

bell hooks[13] (2019; 2018), conta-nos sobre o surgimento do movimento feminista e sobre como ele era, em seus in�cios, estruturado pela pr�tica, pela vida das mulheres.[14] Pela percep��o e afirma��o das conex�es entre o pessoal e o pol�tico. Tais conex�es � que a escrita performativa tamb�m estabelece quando opera um engajamento, um investimento de si por parte de quem escreve � permitem que realizemos um exerc�cio de imagina��o sociol�gica, conectando o cotidiano das autoras cujos textos integram esta colet�nea, �s quest�es que nos afetam coletivamente. O pessoal � pol�tico, e as cartas entre quatro artistas-pesquisadoras-professoras[15], os relatos de pr�ticas art�sticas e docentes, falam e tocam a todas n�s, a todos n�s. Ao falarem sobre suas experi�ncias, elas falam sobre si e falam tamb�m sobre n�s. E falam conosco. Sua escrita � a��o e convite para agir.

O que seria o performativo que adjetiva as escritas aqui reunidas? Poder�amos apontar como caracter�sticas do performativo: o apelo a outros modos de percep��o (e no caso do texto, a pr�pria ressignifica��o do que � considerado texto); o car�ter processual, inacabado, de algo que est� sendo feito, do que est� sendo composto atrav�s de uma colagem de diferentes formas e g�neros; o espa�o para o cotidiano, a n�o separa��o entre arte e vida; a (re)inscri��o da arte no dom�nio pol�tico; o deslocamento dos c�digos; a possibilidade do risco, do malogro, do erro que acompanha a tentativa; a ludicidade das formas visuais e verbais do discurso; a performatividade como experi�ncia e como execu��o de uma a��o.

Percebemos tais marcas nos textos com trechos riscados aparentes, acompanhando as decis�es e o investimento de tempo e energia, os movimentos de corpos e pensamentos, a videodan�a imaginada nas tarefas dom�sticas, os fragmentos de caos e de cacos de vidro, as imagens que nos atropelam, o tempo que nos atropela, nos cronometrados cinquenta minutos de uma aula de artes na escola p�blica, os fragmentos de discurso nos di�logos entre pessoas af�sicas, as aproxima��es e afastamentos entre espa�os e alteridades. O grande espa�o vazio nas p�ginas � espera, enquanto o ponto de inser��o aguarda a digita��o das palavras.

Os textos que seguem desafiam suas pr�prias autoras e autores a olharem para a forma como escrevem, a perguntarem por que o fazem obedecendo a determinadas formas e deixam outras tantas possibilidades. O que torna um texto �public�vel� em peri�dicos, �leg�vel�, �compreens�vel�? No ensaio A l�ngua. Ensinando novos mundos, novas palavras, bell hooks reflete sobre o colonialismo que opera na linguagem, nos v�nculos entre l�ngua e domina��o. Como transform�-la numa contral�ngua, num espa�o de resist�ncia? Na escuta das can��es dos escravizados afro-americanos, dos spirituals, bell hooks chama a aten��o para as constru��es gramaticais que quebram, despeda�am o ingl�s padr�o:

 

[...] o poder dessa fala n�o � simplesmente o de possibilitar a resist�ncia � supremacia branca, mas tamb�m o de forjar um espa�o para a produ��o cultural alternativa e para epistemologias alternativas - diferentes maneiras de pensar e saber que foram cruciais para a cria��o de uma vis�o de mundo contra-hegem�nica. (hooks, 2019, p. 228).

 

Refletindo a partir dessas considera��es, reconhecemos, nas escritas que aqui apresentamos, trechos em que uma fragmenta��o da l�ngua e das estruturas da escrita acad�mica se coloca em curso. Conhecer em fragmentos, conceber espa�os em que n�o compreendemos o todo �, segundo bell hooks, uma estrat�gia pedag�gica e pol�tica: podemos ouvir sem �dominar� ou �conquistar� a narrativa como um todo, podemos escutar sem �tomar posse� da interpreta��o.

Entramos em contradi��o. Revisamos os textos acossadas por uma tal �norma culta�. Escrevemos aqui na l�ngua de nossos colonizadores. Mas o que podemos fazer com ela? E quantas outras l�nguas e saberes silenciados deveriam ocupar este espa�o?

Pensando no que bell hooks (2018) nos conta sobre a constru��o da teoria feminista, parece haver um paralelo, um reconhecimento entre teoria feminista e pesquisa em arte (e sua escrita). Para que(m) elas servem? Quando falamos, pensamos sobre, buscamos por modos de escrita performativa, estamos buscando tamb�m um sentido para o que fazemos. Um encontro transformador entre est�tica e pol�tica, uma busca por tornar acess�veis os conhecimentos gerados nesse encontro. Algo ainda mais urgente quando nos damos conta de que ocupamos espa�os e recursos p�blicos e que tais recursos devem ser partilhados, servirem ao bem comum e n�o se encerrarem em muros de privil�gios. bell hooks nos diz: a academiza��o pode enfraquecer o movimento feminista, ao despolitiz�-lo. Uma teoria que se restringe ao p�blico acad�mico torna-se um gueto com pouca conex�o com o mundo l� fora. Precisamos basear nossos estudos e pesquisas na comunidade, pensar em um comum. Alcan�ar al�m da palavra acad�mica e at� mesmo da palavra escrita, pensar outros recursos de compartilhamento de conhecimento. Uma educa��o feminista, um conhecimento feminista.

Compartilhar experi�ncias na escrita, escrever a partir da pr�tica. Mas ainda e sempre � preciso perguntar: quem est� compartilhando suas experi�ncias e pr�ticas? A escrita acad�mica precisa encarar suas contradi��es para que possa ser inventada e reinventada a cada momento, a cada pesquisa. Nesta colet�nea de textos, houve tentativas de vincular o que jamais deveria ter sido desvinculado: a subjetividade de quem pesquisa, com as pessoas, mat�rias, teorias, conceitos que surgem desse investigar. O conhecimento e o cotidiano, a arte e a vida. Esse conhecimento, essa arte, servindo como interven��o na vida, como transforma��o da vida, desenhando-se como pr�xis, teoria e pr�tica informando-se mutuamente. Uma escrita que flexiona substantivos e adjetivos no feminino nos faz pensar em g�nero, em corpo, naquelas que est�o por tr�s das p�ginas, que escrevem as palavras. Nos obst�culos que encontram para conciliar o trabalho acad�mico com o invis�vel e desvalorizado trabalho de reprodu��o social. Nos obst�culos que encontram para ocuparem o espa�o acad�mico. Quantas m�es pesquisadoras puderam participar desta colet�nea? Quantas mulheres negras? Ind�genas? Trans? A escrita performativa � para que(m)?

Chamar aten��o para a impraticabilidade de apresentarmos uma proposi��o desveladora e encerrante n�o � um pedido de desculpas por falta de acabamento, por poss�veis ingenuidade(s) ou por praxe. Pelo contr�rio, apresentam-se incertezas porque estamos cientes da crescente instabilidade da produ��o e da pr�pria sobreviv�ncia da ci�ncia e da academia brasileira. Com consci�ncia tomada e partilhada, temos responsabilidades e demandas a cumprir, conhecimentos e mem�rias a reiterar (e, consequentemente) pr�ticas a incorporar. Ali�s que fique dito,

 

Por favor, aperte essa ferida

tem coisa que n�o se pode deixar passar batido

 

especialmente se essa ferida for excludente, racista, gordof�bica, mis�gina, transf�bica, colonial ou complacente com viol�ncias. O perigo � real, e este n�o � algo que queiramos correr aqui.

 

Mesmo n�o sendo um desafio exclusivo das pesquisas em arte, escrever (na academia) � por vezes ignorar grande parte da experi�ncia. Ao buscar o que pode ser isolado, traduzido e reproduzido das experi�ncias sens�veis, reduzimo-las a experimentos - com exatid�o, comprova��o cient�fica, e at� a possibilidade de previs�es futuras[16].

No entanto, � imposs�vel cercar for�as que atravessam o acontecimento � est�o entrela�adas. O dilema da pessoa pesquisadora-artista est� posto: relacionar-se com o que � sens�vel, inst�vel e processual produzindo, atrav�s (da descri��o) da experi�ncia, uma escrita que, por ser cient�fica, tem por finalidade mostrar fontes, resultados e conclus�es.

 

O QUE N�O � ESCRITA PERFORMATIVA

 

A escrita performativa n�o � uma guerra contra a ABNT.

 

A escrita performativa n�o substitui e nem se pretende melhor que outras escritas, advoga contra o perigo da Hist�ria �nica[17] que cria e perpetua no��es incompletas, apartadas da experi�ncia, ou seja, estere�tipos.

 

Ah! Que dif�cil!

Estou carregando cinco livros na mochila, o computador, a garrafa d��gua e uma blusa para aguentar o frio da biblioteca. Estou empacada, sentada h� horas na frente disso aqui.

J� comecei isso v�rias vezes e nada deslancha.

N�o d� para escrever isso sem explicar aquilo.

Ser� que rola uma nota de rodap�?

Onde � que t� aquela refer�ncia mesmo?

Tinha certeza que era desse livro.

Queria ter escrito esse livro.

Quais s�o suas refer�ncias?

Para quem voc� escreve?

Escreve isso que voc� falou agora.

Ser� que tem algum lugar para publicar esse texto assim?

E se a gente inventasse um espa�o para caber?

Qual o prazo de submiss�o mesmo?

 

 

 

DO TEMA AOS MODOS, REFLEX�ES E INVEN��ES: A PESQUISA EM ARTES C�NICAS E A ESCRITA SOBRE A PESQUISA

 

...tudo come�ou assim: Ines Saber prop�s que a pesquisa de seu doutorado em Teatro fosse n�o somente a an�lise de um corpo de dados, mas uma cole��o de a��es coletivas. Apostando em sua tese como uma poss�vel consequ�ncia de a��es na academia, Ines prop�s, dentre tais a��es, cursos de escrita para artistas na academia e uma chamada para um tipo de �dossi� de textos performativos, com o intuito de discutir a escrita acad�mica na Pesquisa em Artes e a urg�ncia do performativo, atrav�s de escritas de pessoas pesquisadoras artistas de diferentes universidades brasileiras. Se forma e conte�do s�o intr�nsecas em arte, e de m�tua influ�ncia, por que a forma de pesquis�-la deveria ser estabelecida priori?

 

Foi a� que surgiu uma chamada aberta para pesquisadoras e pesquisadores de p�s-gradua��o em artes c�nicas, teatro, dan�a e performance para a publica��o de uma colet�nea de textos cujos temas elencados foram: as metodologias que inventamos; a rela��o de duas m�os entre modo e conte�do; as atualiza��es e alternativas aos formatos tradicionais; as reflex�es sobre nossa postura frente �s pr�ticas de pesquisa e � escrita acad�mica.  Essa chamada defendia que a pesquisa em artes c�nicas como uma procura met�dica e consciente, seguindo crit�rios pr�prios (indefin�veis enquanto generaliza��o), tratando de processos, subjetividades e suas implica��es.

O convite para a escrita dessa colet�nea foi bem amplo, sem restri��es pr�-estabelecidas quanto a formata��o: nem refer�ncias, nem cita��es precisavam se restringir �s normas ABNT, mas precisavam estar presentes de alguma forma - pl�gios n�o seriam aceitos. A escrita poderia tomar a forma que lhe coubesse, ou ainda, inventar outras formas, expandir seu espa�o de ocupa��o, explorar o infinito que cabe em uma folha A4.

Para a submiss�o de um texto para essa colet�nea, aceitou-se colabora��es escritas em l�ngua portuguesa de autoras e autores artistas (em parceria com pessoas acad�micas), mestrandas e mestrandos, mestras e mestres, doutorandas e doutorandos, doutoras e doutores de �rea das artes.

A divulga��o da chamada para publica��o foi feita inicialmente em julho de 2019, atrav�s de e-mails para discentes do Programa de P�s-Gradua��o em Teatro da UDESC e para diferentes endere�os eletr�nicos de coordena��es e secretarias de programas de p�s-gradua��o em artes, artes c�nicas, dan�a e teatro.

Em Setembro de 2019, Ines Saber participou do Semin�rio de Pesquisa em Andamento (SPA) da Escola de Comunica��es e Artes da Universidade de S�o Paulo (ECA-USP). Imprimiu uma quantidade de panfletos com o chamamento para a publica��o e entregou-os, juntamente com perguntas disparadoras de uma escrita para cada pessoa que assistiu apresentar, vinculadas �s suas pesquisas. Al�m disso, no coquetel de encerramento do semin�rio, entregou os panfletos e convidou pessoas a escreverem textos performativos. A Equipe da Comiss�o Organizadora do SPA-USP foi bastante sol�cita, reencaminhando para todas as pessoas participantes do evento o chamamento para a publica��o de textos performativos em uma revista.

At� o fim de setembro Ines recebeu quase 40 textos. A possibilidade de elabora��o de uma colet�nea de escrita, seja ela pr�tica, cr�tica e pol�tica, tema, m�todo e a��o, de pessoas pesquisadoras e artistas, j� n�o era uma idealiza��o, mas uma a��o conjunta, complexa, que necessitaria de mais pessoas para organiz�-la. A� surgiu o Coletivo Escrita Performativa com os seguintes integrantes: Franciele Aguiar, Jussara Belchior, Ines Saber, Luane Pedroso, Matheus Abel e Lucas Dalbem.

 

DAS NOSSAS ESCRITAS PERFORMATIVAS: TENTATIVAS, FRACASSOS, EXPERI�NCIAS E FLERTES

N�s nos reunimos a primeira vez para olharmos os textos recebidos, um grupo inicialmente formado por estudantes de p�s-gradua��o em Teatro e Artes Visuais, doutorandas e mestrandos, cujo interesse em escritas n�o colonizadoras, n�o apartadas do corpo, e em transitar pelos limiares entre a palavra e a imagem, permitiriam rela��es n�o hierarquizadas entre saberes, experi�ncias e contextos de produ��o de conhecimento, sem medo de problematizar o pr�prio fazer. A rela��o forma/conte�do n�o foi encarada como um dilema, mas um caminho a ser desvendado; da experimenta��o das op��es das ferramentas de textos (cores das letras, cores das p�ginas, alinhamento do texto, caixa de texto, linhas recortando as p�ginas e imagens etc.) a outras m�dias adaptadas a esta publica��o (escritas a m�o, bordados, fotografias).

A curiosidade pairava sobre relatos, metodologias, cr�ticas e reflex�es sobre pesquisas acad�micas nos mais diversos formatos; eram textos muitos diferentes reunidos em uma publica��o de-sobre-com escrita performativa. Lan�ou-se sobre n�s uma pergunta: Como reuni-los? Para respond�-la decidimos que nosso crit�rio de organiza��o partiria da leitura, da demanda dos textos, encontrando na pr�tica um modo de fazer coerente, estabelecendo campos de discuss�es atrav�s da escrita performativa. Isto posto, como propor um debate que se adensa n�o apenas na reflex�o com os cruzamentos de refer�ncias, mas nas propostas inventivas, dissidentes, que tencionam as formas de rela��o entre os seres e as coisas em uma escrita acad�mica?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A Academia � um lugar de produ��o de discurso e cria um regime de autoriza��o discursiva, que por sua vez � �ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribu�da por [...] procedimentos que t�m a fun��o de conjurar seus poderes e perigos� (Foucault, 2012, p. 8). Em nossa sociedade temos uma longa tradi��o de humanidades negadas, muitas vozes demoraram tanto a ser ouvidas.

A exemplo disso, segundo os dados apresentados em Pequeno Manual Antirracista (Ribeiro, 2019, p. 49) s� em 2012 foi implantada a lei de cotas federais nas institui��es brasileiras de ensino superior;em 2018, vemos o reflexo dessa mudan�a quando a estat�stica mostra que a maioria dos estudantes � negra (51,2%).

Sabemos que o �n�s� dos textos acad�micos ainda n�o necessariamente abarca vozes pobres, negras, transfeministas e outras muitas intersec��es; afinal a academia � reflexo de um projeto europeu, branco e patriarcal. N�o podemos nos esquecer que a linguagem � coerciva e naturalmente expropriada de experi�ncia. Na busca por construir coletivamente esta colet�nea, conversamos sobre tais quest�es e sobre os textos em si, e sobre o que as leituras e as reescritas nos trouxeram. Se estabelec�ssemos regras, territ�rios ou categorias a priori, provavelmente favorecer�amos uma postura excludente e elitista. Como trabalhar, atravessar e revisar os assuntos dos textos sem verticalizar uma rela��o hier�rquica de poder entre Corpo Editorial e autoras e autores?

Durante os encontros nosso posicionamento, enquanto coletivo, foi tomando corpo atrav�s do reconhecimento de tens�es no nosso pr�prio fazer, entre o que se espera do trabalho de edi��o em publica��es acad�micas e os caminhos poss�veis para fazer da academia um ambiente poroso - um espa�o de insurg�ncias de saberes que foram (e t�m sido) outros para a academia. Em tempos de amea�as de desmontes da educa��o, a procura por outros modos de escrita � um convite � reflex�o sobre nossas epistemologias. Nossas a��es s�o um di�logo com o que j� fora produzido pela pesquisa acad�mica brasileira em artes, ressignificando, alimentando e complexificando os arquivos que temos constru�do.

Com essa reflex�o veio tamb�m o questionamento sobre nossa imagem. Por estarmos lidando com jogo de poderes, como poder�amos criar e manter um lugar de liberdade, inventividade e jogo sem abdicar de responsabilidades?

Debochando de n�s mesmas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem - Parte do Coletivo Escrita Performativa - Do tema aos modos, reflex�es e inven��es: a pesquisa em arte e as escritas da pesquisa (Perucas de Suzaninha Richthofen[18]). Foto:Luan Nagib, 2019. Fonte: Acervo pessoal

Em nossas estrat�gias de desestabilizar a ordem e despertar a curiosidade de leitoras e leitores, pensamos em apresentar as autoras e autores de uma outra forma. Ao contr�rio de priorizar os t�tulos acad�micos ou as institui��es em que os autoras e autores trabalham e/ou estudam, destacar os interesses e percursos dos pesquisadoras e pesquisadores. Pedimos que os as autoras e autores escrevessem uma minibio[19] sem citar esses dados convencionais. Nosso intuito era de chamar aten��o do texto por seu assunto, n�o por sua autoria. Idealizamos desvincular essas pequenas biografias, assim como os resumos, das escritas. De tal forma, os leitoras e leitores poderiam buscar pelos textos a partir da atra��o pelas tem�ticas e abordagens.

 

 

 

 

��������������������������������������������������������

Uma imagem contendo texto  Descri��o gerada automaticamente

Mineira, professora com forma��o em dan�a, mestra em artes c�nicas, doutoranda em artes, pesquisadora de performance, jogo e fluxo na educa��o. Artista da dan�a, articula o ajuntamento abrindo a sala, que convida pessoas de diferentes quer�ncias e pr�ticas a (se) ajuntarem (em) po�ticas da conviv�ncia. Investiga modos de composi��o a partir dos conhecimentos e sabores do que n�o-se-sabe. Performer e educartista. Brinca com as possibilidades de aprendizagem que emergem de pr�ticas performativas, dos n�o-saberes. Ressoam em seu corpo e interesse vozes das artes, da literatura e da filosofia. Professora/Artisteira. Propositora de invencionices brincantes com crian�as pequenas. Habitante de muitas casas. Casa/Ch�o; Casa/Vento; Casa/Inf�ncia; Casa/Por�o; Casa/Inven��o; Casa/Escola; Casa/V�o; Casa/Fic��o; Casa/Sonho; Casa/Pesquisa; Casa/Devaneio; Casa/Teatro; Casa/Escritura. Lembro-me ainda do arrebatamento pela Arte quando ainda bem pequena deparei-me com um quadro que tinha uma fotografia de uma bailarina. Dancei, me formei em Teatro e tenho me tornado atriz e professora.  Enquanto atriz, me dedico a investigar as artes performativas; enquanto professora, sigo atravessada pelo meu interesse pela crian�a, por seu modo de ser e estar na arte e na vida. O que podemos fazer de Teatro com crian�as t�o pequenas?� A resposta: TUDO. Atriz, professora, gosta de escutar as vozes das pessoas e prefere cantar a falar. Quando ainda podia contar a idade nos dedos de uma �nica m�o, transformou em microfone um peda�o de cano de PVC. Ao encontrar dramaturgia na estante da biblioteca da escola, decidiu brincar de teatro e o fez. E o faz. Tem meia d�zia de gatos: uma delas se chama Cigana e gosta de acompanhar as escritas deitada sobre livros e anota��es feitas � m�o. Professorartista pesquisadora ga�cha residente em Bras�lia com experi�ncias m�ltiplas em dan�a e teatro. Meditadora. Investigadora de processos em dan�a contempor�nea desde 2009. Mestra e Doutora. Diretora. Terapeuta Reiki. Professoramiga confidente. Consteladora Familiar (em forma��o). Professora de uma licenciatura em dan�a e integrante de grupo de pesquisa em improvisa��o. Pesquisadora e artista das artes do corpo. Meus trabalhos t�m como eixo central as emerg�ncias, insurg�ncias e pot�ncias que acontecem e fazem parte do corpo, constituindo-se de obras autorais e trabalhos coletivos com artistas parceiros. Atriz, bailarina, gosta muito de teatro de bonecos. Se arrisca em instrumentos percussivos e adora m�sica brasileira. Nasceu em uma fam�lia de artistas o que, para ela, foi de vital import�ncia para sua forma��o que se deu, sobretudo, do lado de fora da Academia. Ama cachorros e dias de sol. Prefere teatro a cinema. N�o acredita no capitalismo. Gosta de escrever despretensiosamente. Tem a sorte de amar o que faz. Artista pop-nerd das visualidades do espa�o e do tempo. Montando alegorias cr�ticas sobre as possibilidades revolucion�rias dos jogos, hqs, rpgs, cosplays, s�ries e filmes. Atriz, performer, encenadora, diretora, dramaturga e escritora. Professora-estudante, pesquisa e escreve �com� e �entre�; corpo, escrita, dan�a, performance e poesia, e faz de sua tese um conjunto de a��es: propor coletivamente espa�os e experi�ncias coletivas de outras escritas em Pesquisas em Artes. Atriz, professora e diretora de Teatro desde 1991. Pesquisadora-artista-educadora, montanhista-dan�arina, m�e, filha, (e aqui sobretudo) neta, art�fice, costureira e bordadeira, graduada em dan�a, mestre em comunica��o e semi�tica, doutoranda em artes c�nicas e professora. Artista c�nica de interlinguagens e indisciplinar, produtora cultural, pesquisadora e provocadora de processos art�stico-pedag�gicos psicom�gicos em contextos escolares e n�o-escolares. Faz quest�o de ser chamada de bailarina gorda. � paulistana filha de mineiros. Mudou-se para Florian�polis n�o pela praia, mas para integrar uma companhia profissional de dan�a, trabalhando ali por dez anos. Sua pesquisa acad�mica � interdependente de sua pr�tica como artista.  Interessa-se por po�ticas e pol�ticas de movimento e posicionamento atrav�s da dan�a. Paulistano de nascimento, campineiro de forma��o e curitibano de morada, � membro fundador da quandonde interven��es urbanas em arte, palha�o (atua��o e dire��o), vegano, pai da Lu�sa, ciclista e antifascista. Professor, diretor e ator. Estuda (des)hierarquiza��o das fun��es teatrais, rela��es de poder e encena��o teatral. Atualmente est� interessado em processos e pessoas que estudam o aprender a aprender. Nasceu em 1990 na cidade de Peritiba e foi criada no interior da cidade de Conc�rdia, SC. Vive na ilha de Florian�polis h� 10 anos, onde cursou a licenciatura em Artes Visuais. Viveu na Bol�via em 2013 e em Portugal em 2015/2016, onde estudou e trabalhou. Produz a partir da origem e pr�tica camponesa, comunit�ria e matriarcal, articulando tentativas e processos de arte e de vida. Sombriense, artista visual, atualmente vive e trabalha em Florian�polis. Investiga processos de escrita e modos de leitura, propondo rela��es e tens�es via a s�rie de trabalhos mapas/esquemas/diagramas. Pensa o pensar o processo enquanto obra. Sou performer-cart�grafa-pesquisadora-docente. Minhas investiga��es ocorrem nos cruzamentos e nas linhas de fuga entre performance, teatro e dan�a. Meu processo de cria��o se desdobra em perguntas que est�o continuamente se atualizando. Eis algumas perguntas da minha cole��o: como desacostumar o olhar?; como estar � altura do que me acontece?; como contra efetuar os acidentes em vez de ressenti-los?

Para muitas pessoas artistas-acad�micas o trabalho n�o � a escrita sobre, mas a escrita: da, na e com pesquisa. Sabe-se que a Pesquisa em Artes na academia seguiu os moldes das ci�ncias humanas se estruturando, principalmente, em um fazer sobre algo. Artistas[20] que se tornaram docentes na academia mencionam a dificuldade de conciliar a pesquisa art�stica com a pr�tica acad�mica, quest�o recorrente em alguns textos desta colet�nea. Percebemos que a proposi��o desta colet�nea foi um espa�o para o exerc�cio de uma escrita art�stica-acad�mica, enquanto tema e modo, uma maneira de aliar a pesquisa acad�mica e a pesquisa na pr�tica art�stica.

Em algum momento de nossa trajet�ria enquanto Corpo Editorial, perguntaram-nos por que esta n�o seria uma publica��o independente; buscamos uma parceria com professoras[21] na �rea de Artes j� experientes na organiza��o de dossi�s e publica��es em peri�dicos acad�micos. Acreditamos que a publica��o em uma revista acad�mica veio como forma de garantir, atrav�s da escrita, um lugar da produ��o acad�mica nas artes c�nicas nas vertentes feministas, decoloniais e insurgentes que desafiam o sistema vigente. Acreditamos que pesquisa em arte tem modos de revelar processos hist�ricos, sociais, �ticos, pol�ticos � a possibilidade de um giro atrav�s de um processo inventivo. A escrita performativa em revistas acad�micas, portanto, se mostra um espa�o de debate e realiza��o desses modos, tanto de temas como de formas de pesquisa; uma demanda da classe por outras experi�ncias inclu�das no espa�o reflexivo da academia.

Tanto se fala da necessidade de escuta daqueles que sempre foram autorizados a falar. Publicar textos performativos em uma revista acad�mica �, antes de mais nada, a possibilidade de desenvolver um lugar de escuta, para que o conhecimento que produzimos permita tamb�m insurg�ncias de ferramentas, de modos e saberes pr�prios, para que outras pesquisas possam vir a criar m�todos acad�micos. � a busca de uma escrita acad�mica que n�o seja a manuten��o de uma produ��o reduzida, protegida e conservadora, mas que seja uma constru��o coletiva de fundamentos, saberes e redes.

Com a perspectiva de construir coletivamente com as autoras e autores que contribu�ram para esta colet�nea, pensamos em estrat�gias de sele��o dos materiais que nos chegaram de forma que n�o prioriz�ssemos nenhum par�metro formal pr�-estabelecido, pois este j� � um modelo bastante adotado em processos editoriais de revistas acad�micas � nestas geralmente adaptamos nossos textos aos crit�rios e normas j� existentes.

O importante para n�s era fazer com que as experi�ncias de escritas e metodologias das pesquisas n�o fossem apenas tema, mas um exerc�cio reflexivo de e com forma e conte�do. Receber�amos textos que n�o �coubessem� em outros dossi�s, ou seja, textos que pudessem ser negados por revistas acad�micas por n�o estarem em conson�ncia com as formas pr�-estabelecidas. J� estava posto desde ali que n�o seriam aceitas propostas que reproduzissem a mesma �constru��o do discurso linear, duro, faloc�ntrico� (Caballero, 2016, p.17) que pretend�amos destronar.

Pensar em uma escrita performativa � tamb�m trabalhar com idas e vindas, costuras, mapeamentos, fissuras. Convidamos pessoas que defendem outras escritas, sugerimos autorias coletivas. Os textos vieram, voltaram, vieram, voltaram, vieram... e alguns textos foram inteiramente reescritos.

As solicita��es inicialmente enviadas atrav�s de coment�rios no documento se tornaram apenas o in�cio da interlocu��o, quase que unanimemente seguidas de �mas como vou fazer isso?�. Para tanto, ajustes e concess�es foram feitos para chegar a poss�veis solu��es; estrat�gias foram experimentadas por ambas as partes (pessoas editoras e escritoras) por meio de conversas informais por videoconfer�ncias, encontros em caf�s, ou via Whatsapp� � muitas delas com �udios para afinar proposi��es e modos. Nosso desafio foi encontrar sa�das para que cada texto recebido pudesse orientar par�metros, e que esses pudessem se constituir numa esp�cie de poliniza��o.

Uma imagem contendo texto  Descri��o gerada automaticamente

Cada texto desta colet�nea � de fato um universo, resultado de uma extensa negocia��o entre a equipe organizadora e as autoras e autores que colaboraram na escrita. Por se tratar de um volume especial, as normas de submiss�o da revista DAPesquisa ficaram suspensas.

Entendemos o texto como espa�o investigativo em todos os seus desdobramentos, tais como os que acontecem nas in�meras possibilidades de intersec��o entre palavra e imagem. Muitos textos custaram muitas idas e vindas para que se chegasse a uma estrutura de di�logo entre pr�tica art�stica/pedag�gica e escrita performativa. Alguns apresentaram uma rela��o mais intr�nseca entre forma e conte�do: trouxeram exemplos pr�ticos, explicitaram a escolha das refer�ncias e aprofundaram os temas propostos. Mas houve outros ainda os que n�o contestaram de maneira direta as estruturas tradicionais do texto acad�mico, ainda que estrat�gias que se op�em a um pensamento acad�mico epistemicida.

 

Pudemos pensar, atrav�s dos textos recebidos, possibilidades de escrita coerentes com nossos temas e modos de pesquisa, e entender tamb�m que publicar um dossi� de textos performativos significa ter muito mais passos para todas as pessoas envolvidas do que teria uma organiza��o de um volume de revista � a descoberta foi mesmo coletiva.

 

Sendo assim, a colet�nea tem a singularidade de cada pesquisa das pessoas colaboradoras e, enquanto um conjunto, � um convite � leitura de outros formatos e l�gicas de escrita e potencial de desdobramentos, tornando-se um espa�o e convite para seguir vest�gios e pistas que n�o cabem no texto dito �acad�mico�, atrav�s do questionamento, enquanto tema e modos, dos pr�prios modos como a academia produz, gerencia e replica epistemologias.

 

O PORQU� DA ESCRITA PERFORMATIVA

Em geral, mesmo em Artes, temos uma produ��o de escrita acad�mica bastante condicionada, que reduz nossas proposi��es mais ousadas a temas de nossas pesquisas, sem transp�-las � escrita.

H� s�culos tem-se pensado a postura da pessoa pesquisadora e as consequ�ncias da sua rela��o com o objeto de pesquisa. Seguindo um vi�s hist�rico, percebemos que em algumas �reas, a escrita vinha acompanhando, de forma instrumentalizada, os processos da cr�tica sobre a pesquisa. Isto se deve � suposi��o de que uma escrita objetiva e �neutra� assegura a seriedade e a legitimidade de uma pesquisa.

No entanto, a acusa��o de que as ci�ncias sociais, por terem como objeto o ser humano, afetariam o processo de conhecimento por estarem impregnadas de subjetividade, � colocada em xeque j� no in�cio do s�culo XX com a Teoria da Relatividade de Albert Einstein (1991).

Por outro lado, em outras �reas, a escrita foi pensada junto desse processo. Michel de Montaigne (2002) escrevia em primeira pessoa no s�culo XVI, incorporando em seu procedimento, suas a��es cr�ticas sobre o saber humano. Em 1580, ao publicar Os Ensaios, cunha esse estilo que se desenvolve depois como um g�nero liter�rio.

Isto posto, � poss�vel observar que h� uma dualidade na pr�tica da escrita, presente ainda em algumas �reas e setores da academia. O teatro � uma das que, tardiamente, tem incorporado a pr�tica de pesquisa (de um objeto, tema ou processo) � escrita da pesquisa tamb�m como cria��o. Todavia, percebemos que, mesmo com toda a liberdade para a produ��o textual, o que suger�amos nas conversas com as autoras e autores para organizar a colet�nea era algo impraticado e impratic�vel. Mais que isso, h� uma expectativa do formalismo acad�mico, mesmo na pesquisa em artes; sentimos a concretude do mito do que � (ou deve ser) a escrita acad�mica.

Alguns conceitos foram chave de entendimento para a nossa conversa com as pesquisadoras e os pesquisadores pela familiaridade destes. Na �ltima d�cada, especialmente, in�meros estudos acad�micos t�m se utilizado dos termos performance, performance art, performativo, perform�tico e a escrita perform�tica em diferentes �reas do conhecimento. A performance art � amplamente discutida em estudos de diferentes �reas das artes e da comunica��o; os termos performance e performativo s�o discutidos principalmente na filosofia da linguagem, na sociologia e na antropologia; e o perform�tico e a escrita perform�tica, especialmente nas letras e nas artes.

Ao nos aproximarmos da artista e te�rica mexicana Diana Taylor (2013, p.45), compreendemos aqui a performance mais do que um tema de estudo, uma vez que para ela, a performance � mais do que um campo art�stico, � uma episteme, um modo de conhecer. Sua escrita n�o possui o pretensioso distanciamento acad�mico, ao contr�rio, suas viv�ncias atravessam o texto � o car�ter perform�tico de sua escrita permite uma sensa��o de proximidade para com as pessoas leitoras.

Defendemos ent�o que o exerc�cio da performance na pesquisa e na escrita � um desdobramento da pesquisa em artes, o exerc�cio de outros modos em nossas pr�ticas de arquivo enquanto acad�micos. Sendo assim,

ESCREVER NA PESQUISA � o exerc�cio de se permitir perceber que nossa percep��o � um processo dial�gico de fazer e referenciar, e que n�o �, mas est� sempre em rela��o (Goffmann, 1959), sem uma estrutura fixada, mas mut�vel.

 

ESCREVER NA PESQUISA � compreender a fala, e consequentemente a escrita, como um ato (Austin, 1990): nossos enunciados (e nossos corpos) podem intervir, instaurar modos de ser/estar no mundo (Butler, 2011).

 

ESCREVER NA PESQUISA � um entrelugar das pessoas pesquisadoras-artistas que restaura procedimentos criativos, cr�ticos, repensando nosso papel social (Schechner, 2006).

 

ESCREVER NA PESQUISA, mais do que compara��es e valoriza��es pela cr�tica, � uma atitude de busca ativa da constru��o e manuten��o de um lugar de di�logo, articula��o de redes de pessoas, lugares, coisas, animais, institui��es (Latour, 2012).

 

O que n�o podemos perder de vista � que, por estarmos lidando com pesquisa em arte, buscamos modos de


tomar consci�ncia,

e buscar rela��es,

experimentar possibilidades

conhecer subjetividades,

praticar a liberdade,

deixar emergir,

subverter l�gicas

_____________________(preencher com mais possibilidades)

 

Que a escrita aqui seja um ato, uma des-coberta de exist�ncias, mais do que uma descri��o ou justificativa de nossas pesquisas. Que este seja um convite para a pr�tica da escrita performativa na academia, e para um in�cio de conversa.

As maneiras de continuarmos esta conversa s�o in�meras, se voc�, leitora e leitor, tiver uma proposta, coment�rio, sugest�o, desabafo que queria nos trazer, nosso contato � escritaperformativa@gmail.com .

 

 

REFER�NCIAS

 

ADICHIE, Chimamanda Ngozi. The danger of a single story.[S. l.: s. n], jul. 2009. 1 v�deo (18 min., 34 sec.). Website: TED Ideas Worth Spreading. Dispon�vel em: https://www.ted.com/talks/chimamanda_ngozi_adichie_the_danger_of_a_single_story. Acesso em: 12 fev. 2020.

 

AGAMBEN, G. Inf�ncia e hist�ria: destrui��o da experi�ncia e origem da hist�ria. Belo Horizonte: Editora UFMG; 2005.

 

AGAMBEN, G. Signatura rerum: sobre o m�todo. Barcelona:Anagrama, 2010.

 

ANZALD�A, G. Falando em l�nguas: uma carta para as mulheres escritoras do terceiro mundo. Revista Estudos Feministas. Florian�polis, v. 8, n. 1, p. 229-236, 2000.DOI: https://doi.org/10.1590/%25x. Dispon�vel em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view /9880/9106. Acesso em:12 fev. 2020.

 

AUSTIN, J. L. Quando dizer � fazer: palavras e a��o. Porto Alegre: Artes M�dicas, 1990.

 

BASBAUM, R. R. Manual do artista � etc. Rio de Janeiro:Beco do Azougue, 2013.

 

BUTLER, J. Cuerpos que importan. Sobre los limites materiales y discursivos del �sexo�, In: TAYLOR, D.; FUENTES, M. (org).Estudios avanzados de performance, M�xico: Fondo de Cultura Economica USA, 2011. p. 51-90.

 

CABALLERO, I. D. Cen�rios liminares: teatralidades, performances e pol�tica. Uberl�ndia: EDUFU, 2016.

 

EINSTEIN, A. A Teoria da Relatividade Especial e Geral. S�o Paulo: Atlas,1991.

 

FERNANDES, C. Pesquisa Som�tico-Performativa: sintonia, sensibilidade, integra��o. Art Research Journal, Natal, RN, v. 1, n. 2, p.76-95, jul./dez. 2014. Dispon�vel em: https://periodicos.ufrn.br/artresearchjournal/article/view/5262/4239. Acesso em: 12 dev. 2020.

 

FORTIN, S.; GOSSELIN, P. Considera��es metodol�gicas para a pesquisa em arte no meio acad�mico. Art Research Journal, Natal, RN, v. 1, n. 1, p. 1-17, jan./jun.2014. Dispon�vel em: https://periodicos.ufrn.br/artresearchjournal/article/view/5256/4314. Acesso em:12 fev. 2020.

 

FOUCAULT, M.l. A ordem do discurso. S�o Paulo: Edi��es Loyola, 2012.

 

GOFFMAN, E. The presentation of self in everyday life. New York: Doubleday, 1959.

 

HASEMAN, B. Manifesto for Performative Research. Media International Australia incorporating Culture and Policy, Austr�lia, n. 118, feb. 2006. p. 98-106.

HOOKS, B. Ensinando a transgredir: a educa��o como pr�tica da liberdade. 2. ed. S�o Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2013.

 

HOOKS, B. O feminismo � para todo mundo: pol�ticas arrebatadoras.Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018.E-book. Dispon�vel em: https://www.record.com.br/produto/o-feminismo-e-para-todo-mundo-2/. Acesso em: 12 fev. 2020.

 

LADDAGA, R. Est�tica da emerg�ncia: a forma��o de outra cultura das artes. S�o Paulo: Martins Fontes, 2012.

 

LAWRENCE, W.Weiner Lawrenceinterview: the means to answer questions.[S.l.: s.n], 17 mar. 2014. 1 v�deo (12 min., 29 sec.). Entrevista cedida ao canal Louisiana Channel. Dispon�vel em: https://youtu.be/AscU8wKzbbE. Acesso em:14 fev. 2020.

 

LATOUR, B. Reagregando o social: uma Introdu��o � teoria do Ator-Rede. Salvador, BA : EDUFBA, 2012.

 

LYRA, L. de F. R. P. de. Guerreiras e Hero�nas em performance: Da artetnografiaMitodologia em Artes C�nicas. 2010. Tese (Doutorado em Artes C�nicas), Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2011. Dispon�vel em: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPO SIP/284426. Acesso em: 12 fev. 2020.

 

MONTAIGNE, M. de. Os Ensaios: livro I. S�o Paulo: Martins Fontes, 2002.

 

PASSOS, E.; KASTRUP, V.; ESC�SSIA, L. (org.). Pistas do m�todo de cartografia: pesquisa-interven��o e produ��o de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2009.

 

RAGO, M. A aventura de contar-se: feminismos, escritas de si e inven��es da subjetividade. Campinas: Editora da Unicamp, 2013.

 

RIBEIRO, D. Pequeno manual antirracista. S�o Paulo: Companhia das Letras, 2019.

 

ROCHA, T. O que � dan�a contempor�nea? Salvador: Conex�es criativas, 2016.

 

SANTOS, C. M. dos; BIANCALANA, G. R. Autoetnografia: um caminho metodol�gico para a pesquisa em artes performativas. Revista Aspas, S�o Paulo, v. 7, n. 2, p. 53-63, 2017.��� DOI:�� https://doi. org/10.11606 /issn.2238-3999.v7i2p53-63. Dispon�vel em: http://www.revistas.usp.br/aspas/article /view/137980 . Acesso em: 17 fev. 2020.

SCHECHNER, R. Performance studies: an introduction. 2. ed. New York :Routledge, 2006.

 

TAYLOR, D. O arquivo e o repert�rio: performance e mem�ria cultural nas Am�ricas. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.

 

ZAMBONI, S. A pesquisa em arte: um paralelo entre arte e ci�ncia. Campinas, SP: Autores Associados, 1998.

 



[1] O termo artista-etc foi cunhado por Ricardo Basbaum e originalmente publicado no texto em ingl�s I love etc-artists, parte do projeto The next Documenta should be curated by an artist, Basbaum prop�e um artista de m�ltiplas camadas, provocando rela��es arte-e-vida. O texto em portugu�s foi publicado no Manual do artista-etc., em 2013, pela Azougue Editorial.

[2] Podemos dizer que o paradigma implica um movimento que vai de singularidade em singularidade e que, sem abandon�-lo, transforma cada caso singular em uma c�pia de uma regra geral que nunca pode ser formulada a priori. (Agamben, 2010, p.29).

 

[3] Outro termo cunhado por Ricardo Basbaum: intersectando o espectador (aquele que observa) e o expectador (quem espera algo a partir do encontro com algo [no caso, com um trabalho de arte, por exemplo].

[4] [...] esta fase de mudan�a na cultura das artes � compar�vel, em extens�o e profundidade, � transi��o que ocorreu entre os finais do s�culo XVIII e meados do s�culo XIX. (Laddaga, 2012, p.9).

[5] Cf: Brad Haseman (2006).

[6] Cf: Ciane Fernandes (2014).

[7] Cf: Sylvie Fortin & Pierre Gosselin (2009) e Camila Santos & Gisela Biancalana (2017)

 

[8] Cf: Eduardo Passos, Virg�nia Kastrup e Liliana Esc�ssia (2009).

[9] Cf: Luciana Lyra (2010).

[10] Dispon�vel em: https://www.thecityfixbrasil.org/2012/01/11/chines-transforma-mais-de-mil-bicicletas-em-obra-de-arte/

[11] Dispon�vel em: https://www.picuki.com/media/2107665518971156932

 

[12] Refer�ncia ao livro A aventura de contar-se: Feminismos, escrita de si e inven��es da subjetividade (2013), da historiadora feminista Margareth Rago. Nele, a autora fala das narrativas autobiogr�ficas com as quais os feminismos puderam afirmar novos modos de exist�ncia. A rela��o entre escrita feminista e performativa � feita aqui a partir desse "contar-se/contar-nos", que revela nossos corpos na escrita.

[13] Te�rica feminista, ativista social, professora e artista estadunidense. Gloria Jean Watkins adotou o pseud�nimo bell hooks para sua produ��o art�stica e intelectual, inspirada em sua bisav� materna. Ela afirma que seu uso inconvencional das letras mai�sculas tem dois motivos: a diferencia��o entre ela e sua bisav� e o enfoque ao que � mais importante em sua obra � sua escrita e n�o sua pessoa.

[14] bell hooks nos conta tamb�m sobre a import�ncia das discuss�es sobre ra�a e classe em um feminismo que seja realmente revolucion�rio. A igualdade de g�nero n�o pode ser pensada sem a quebra das vis�es ut�picas de sororidade, sem a considera��o das diferen�as que, na estrutura social existente, mant�m a opress�o de mulheres racializadas e/ou pobres enquanto confere poder a mulheres brancas e economicamente privilegiadas.

[15] Uma de nossas a��es foi aproximar algumas autoras atrav�s de uma troca de cartas, esta parece nos dar pistas para entender o que pode ser uma escrita performativa. N�o � apenas o formato da carta (ou qualquer formato diferente de uma formata��o tradicional acad�mica) que garante uma performatividade. O que est� em jogo n�o � apenas o formato. A primeira carta suscita o debate pela reflex�o sobre e com o fazer. A escrita dessas quatro mulheres � um convite �s metodologias que se desvendam na pr�tica.

[16] O fil�sofo Agamben em Inf�ncia e Hist�ria (2005) explica que n�s, sujeitos contempor�neos, estamos expropriados de experi�ncia, o que, de certa maneira, �� uma consequ�ncia que estava impl�cita no projeto fundamental da ci�ncia moderna� (p.25-26).

[17] Alus�o � palestra O perigo da hist�ria �nica (2009) da escritora nigeriana Chimamanda Adichie, dispon�vel em: https://www.ted.com/talks/chimamanda_ngozi_adichie_the_danger_of_a_single_story/.

[18] Personagem drag queen de Arthur Gomes, dispon�vel em: https://www.instagram.com/risotril/.

[19] Muitas dessas minibios, concedidas pelas pessoas autoras dos textos desta edi��o, est�o tamb�m presentes na apresenta��o das autorias de cada texto.

[20] A t�tulo de curiosidade citamos tr�s profissionais de disciplinas distintas: Tereza Rocha (2016), dramaturga e professora na gradua��o em dan�a (UFCE), em uma palestra de apresenta��o de seu livro O que dan�a contempor�nea? (2016) questiona com ele a pr�tica em dan�a estar sempre nas notas de rodap�. S�rgio Medeiros (2019), escritor, poeta e professor de literatura (UFSC), confessou em uma fala sobre sua pesquisa art�stica que esta n�o tem espa�o no seu trabalho na academia. Marta Martins (2019), artista e professora de Artes Visuais (UDESC), desabafou em uma de suas aulas na p�s-gradua��o que o artista na academia est� �sempre pedindo para ter autoriza��o para ser artista, sempre se explicando�.

[21] Tereza Franzoni e Monique Vandressen, ambas professoras do Programa de P�s Gradu��o em teatro da UDESC.