Espreitando a emergência da Modelagem Matemática na Educação Matemática

Autores

  • Maria Carolina Machado Magnus Universidade Federal de Santa Catarina
  • Ademir Donizeti Caldeira Universidade Federal de São Carlos

DOI:

https://doi.org/10.5965/2357724X08172020017

Palavras-chave:

Modelagem Matemática, Currículo, Aprendizagem, Ensino, Emergência

Resumo

O presente artigo tem por objetivo analisar quais foram as condições de possibilidade para que o discurso da Modelagem Matemática emergisse na Educação Matemática brasileira. Para isso, lançou-se mão de aportes teórico-metodológicos vinculados às teorizações do filósofo Michel Foucault. O material analítico abrange teses e dissertações defendidas no Brasil no período entre os anos de 1976 e 1999, as quais tematizaram a Modelagem Matemática na Educação Matemática. A análise desses estudos evidenciou que a emergência do discurso da Modelagem ocorre em meio a uma crise no ensino de Matemática. Essa crise foi problematizada, no presente artigo, a partir do seguinte enunciado: “Os alunos têm dificuldade na aprendizagem da Matemática”. A dificuldade na aprendizagem de Matemática é justificada pelo argumento de que os alunos não teriam base, uma vez que não aprenderam os conteúdos ensinados nos anos anteriores. Tal asserção evidencia as noções de norma, ordem, sequência e hierarquia dos conteúdos matemáticos. Sendo assim, a emergência do discurso da Modelagem operaria um deslocamento na maquinaria curricular. Ou seja, as práticas seriam guiadas pela contingência, pelo caos em detrimento da ordem, da hierarquia, da sequência e da norma. Porém, ela não criaria fissuras ou trincas no discurso curricular; pelo contrário, legitimaria a busca por táticas efetivas que incidam positivamente no processo de ensino e aprendizagem. Desta forma, a Modelagem funcionaria como uma engrenagem na busca pelo melhor funcionamento daquilo que está posto em termos de Educação Matemática no país.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ALBUQUERQUE JÚNIOR, D. M. Michel Foucault e a Mona Lisa ou como escrever a história com um sorriso nos lábios. In: RAGO, M.; VEIGA-NETO, A. (orgs). Figuras de Foucault. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

ANASTÁCIO, M. Q. A. Consideração sobre a Modelagem Matemática e a Educação Matemática. 111 f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática). Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática. Universidade Estadual Paulista. Rio Claro, SP: 1990.

ARTIÈRES, P. Dizer a Atualidade: O trabalho de diagnóstico em Michel Foucault. In: GROS, Frédéric (org). Foucault: a coragem da verdade. São Paulo, Parábola Editorial, 2004.

BIEMBENGUT, M. S. Qualidade no ensino de matemática na engenharia: uma proposta curricular e metodológica. 1997. 196 p. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1997.

BURAK, D. Modelagem Matemática: uma metodologia alternativa para o ensino de matemática na 5ª série. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática). Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática. Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho, Rio Claro, 1987.

______. Modelagem Matemática: ações e interações no processo de ensino-aprendizagem. Tese (Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação. Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1992.

CALDEIRA, A. D. Educação Matemática e Ambiental: um contexto de mudança. Tese (Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade de Campinas, Campinas, 1998.

CORAZZA, S. M. “Como dar uma aula?” Que pergunta é esta? In: MORAES, Vera Regina Pires de. (Org.). Melhoria do ensino e capacitação docente: programa de aperfeiçoamento pedagógico. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1996, p. 57-63.

______. O que quer um currículo? Pesquisas pós-críticas em educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001b.

______. Labirintos da pesquisa, diante dos ferrolhos. IN: COSTA, M. V (org). Caminhos Investigativos I: novos olhares na pesquisa em educação. 3 ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007.

______. Didaticário de criação: aula cheia, antes da aula. Anais... XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas, 2012.

DUARTE, C. G. A “realidade” nas tramas discursivas da educação matemática escolar. 198 f. Tese (Doutorado em Educação). Universidade do Vale do Rio dos Sinos: São Leopoldo, 2009.

FIORENTINI. Estudo de algumas tentativas pioneiras de pesquisa sobre o uso da modelagem matemática no ensino. In: ICME, 8, 1996, Sevilha. Anais... Sevilha: ICME, 1996.

FOUCAULT, M. Nietzsche, a genealogia e a história. In: FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro, Graal, 2011.

______. Michel Foucault explica seu último livro. In: ______. Arqueologia das ciências e história dos sistemas de pensamento. Ditos e Escritos II. Organização e seleção de textos Manoel Barros da Motta: tradução Elisa Monteiro. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013.

______. A Arqueologia do Saber. Trad. Luiz Felipe Baeta Neves. 8ª ed. 3ª tiragem. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014a.

______. História da sexualidade 2: o uso dos prazeres. Trad. Maria Thereza da Costa Albuquerque. 1ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2014b.

GAZZETTA, M. A Modelagem como Estratégia de Aprendizagem da Matemática em Cursos de Aperfeiçoamento de Professores. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática). Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática. Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 1989.

GREGOLIN, M. do R. V. O enunciado e o arquivo: Foucault (entre)vistas. In: SARGENTINI, V.; NAVARRO-BARBOSA, P. (org). Foucault e os domínios da linguagem: discurso, poder, subjetividade. São Carlos: Claraluz, 2004.

HENRIQUES, M. S. O pensamento complexo e a construção de um currículo não-linear. 21ª Reunião Anual da ANPEd (Caxambu, MG, setembro de 1998), no GT Currículo, 1998.

LARROSA, J. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, n. 19. Jan/Fev/Mar/Abr 2002.

MACHADO, R. Foucault, a ciência e o saber. 3ª ed. ver. e ampliada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.

MAGNUS, M. C. M. Modelagem Matemática na Educação Matemática Brasileira: histórias em movimento. 2018. 227 p. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2018.

MEYER, J. F. da C. de A.; CALDEIRA, A. D.; MALHEIROS, A. P. dos S. Modelagem em Educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.

NEVES, J. C. M. O enunciado “os alunos não aprendem matemática por ‘falta de base” em questão. 177 f. Tese (Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2015.

QUARTIERI, M. T. A Modelagem Matemática na educação básica: a mobilização do interesso do aluno e o privilegiamento da matemática escolar. 2012. 199 f. Tese (Doutorado em Educação). Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2012.

SÁNCHEZ, J. E. P. Estratégia combinada de módulos instrucionais e modelos matemáticos interdisciplinares para ensino-aprendizagem de matemática a nível de segundo grau: um estudo exploratório. 305 f. Dissertação (Mestrado em Educação). Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1979.

VEIGA-NETO, A. Foucault e a Educação. 2 ed. 1 reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

Downloads

Publicado

2020-11-30

Como Citar

MAGNUS, Maria Carolina Machado; CALDEIRA, Ademir Donizeti. Espreitando a emergência da Modelagem Matemática na Educação Matemática. Revista BOEM, Florianópolis, v. 8, n. 17, p. 17–33, 2020. DOI: 10.5965/2357724X08172020017. Disponível em: https://revistas.udesc.br/index.php/boem/article/view/17867. Acesso em: 16 nov. 2024.